Por Que Alguns Pacientes Sofrem Com Dor Crônica Por Mais Tempo?

 A dor crônica é um fenômeno multifatorial que envolve aspectos físicos, psicológicos e sociais, tornando seu manejo um desafio clínico. O estudo "What Predicts a Longer Period of Pain in Patients Referred to an Interdisciplinary Center for Pain Care?" investigou os principais fatores que contribuem para a manutenção da dor em pacientes atendidos em centros interdisciplinares especializados.

1. Quais Fatores Prolongam a Dor Crônica?

A pesquisa identificou diversos preditores que podem influenciar a duração da dor crônica, incluindo:

✔ Níveis elevados de catastrofização da dor: Pacientes que acreditam que sua dor é incontrolável ou altamente incapacitante tendem a apresentar maior persistência dos sintomas. 

✔ Distúrbios emocionais, como ansiedade e depressão: Aspectos psicológicos podem amplificar a percepção da dor e dificultar a recuperação. 

✔ Baixa atividade física: A inatividade contribui para a sensibilização central e a perpetuação do quadro doloroso. 

✔ Uso prolongado de opioides: Pode levar à hiperalgesia induzida por opioides, agravando a dor ao invés de aliviá-la.

 ✔ Comorbidades musculoesqueléticas: A presença de múltiplas condições dolorosas pode prolongar o tempo de recuperação.

 ✔ Fatores socioeconômicos: Baixo nível educacional e dificuldades financeiras também foram associados a maior tempo de dor persistente.

💡 Dica clínica: O rastreamento precoce desses fatores pode ajudar a direcionar abordagens terapêuticas mais eficazes e personalizadas.

2. A Importância da Abordagem Interdisciplinar

Os resultados reforçam que a dor crônica deve ser tratada dentro de um modelo biopsicossocial, com integração de diversas abordagens terapêuticas:

🔹 Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC): Ajuda a modificar crenças disfuncionais e reduzir a catastrofização da dor. 

🔹 Exercícios terapêuticos: Movimentos controlados promovem alívio da dor e melhora funcional. 

🔹 Educação sobre dor: Informar o paciente sobre neurociência da dor reduz o medo e melhora a adesão ao tratamento. 

🔹 Acompanhamento interdisciplinar: Combinar fisioterapia, psicologia, e estratégias médicas pode otimizar os desfechos.

💡 Dica clínica: O sucesso do tratamento da dor crônica está na personalização da abordagem, considerando os múltiplos fatores envolvidos na condição do paciente.

3. Aplicações Clínicas e Estratégias Terapêuticas

Com base nos achados do estudo, recomenda-se que os profissionais de saúde adotem as seguintes estratégias:

✔ Avaliação biopsicossocial completa: Identificar fatores de risco além dos aspectos estruturais da dor. 

✔ Uso de questionários validados: Ferramentas como o Pain Catastrophizing Scale (PCS) e o Tampa Scale for Kinesiophobia (TSK) auxiliam na triagem de pacientes com risco de cronificação. 

✔ Integração de diferentes modalidades terapêuticas: A combinação de educação, exercício, e terapia manual pode proporcionar melhores resultados. 

✔ Evitar reforço de crenças disfuncionais: Expressões como "sua coluna está degenerada" devem ser substituídas por explicações baseadas em neurociência da dor.

💡 Dica clínica: Profissionais devem atuar como facilitadores na mudança de comportamento do paciente, incentivando a participação ativa na reabilitação.

Conclusão: Como Reduzir a Persistência da Dor?

O estudo destaca que a dor crônica não pode ser tratada apenas com foco na estrutura anatômica. Aspectos emocionais, comportamentais e sociais desempenham um papel crucial na cronificação da dor, e o sucesso do tratamento depende de abordagens interdisciplinares que considerem esses fatores. O reconhecimento precoce desses preditores pode melhorar os desfechos clínicos e proporcionar melhor qualidade de vida para os pacientes.

Você já identificou esses fatores na sua prática clínica? Como você lida com pacientes de alto risco para dor persistente? Compartilhe sua experiência!

Referências

  • Edwards, R. R., et al. (2023). What Predicts a Longer Period of Pain in Patients Referred to an Interdisciplinary Center for Pain Care? Journal of Pain Management, 48(3), 215-230.

  • Vlaeyen, J. W. S., & Linton, S. J. (2012). Fear-avoidance model of chronic musculoskeletal pain: 12 years on. Pain, 153(6), 1144-1147.

  • Nicholas, M. K., et al. (2019). Psychological treatments for chronic pain. The Lancet Psychiatry, 6(2), 133-142.


Prof Leonardo Nascimento, Ft Msc DO PhD

Fisioterapeuta
Pós-graduado em Fisioterapia Ortopédica e Desportiva pela UNICID/SP
Especialista em Terapia Manual e Postural pela Cesumar/PR
Especialista em Osteopatia pela Universidade Castelo Branco/RJ
Osteopata Certificado pela Escola de Madrid
Professor da Escola de Madrid Internacional
Mestre em Ciências – USP
Diplomado em Osteopatia pela SEFO (Scientific European Federation Osteopaths)
Doutor em Neurociências e Comportamento - FMUSP

É um estudioso da área de palpação e sensibilidade manual tátil no Laboratório de Fisioterapia e Comportamento na Universidade de São Paulo – USP
Colaborador do DO-Touch - AOA (American Osteopathic Association)
Coordenador de Grupos de Pesquisas da Escola de Madrid Internacional
Host do Podcast Osteopatia Científica
Revisor de Periódicos de Fisioterapia e Osteopatia

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