Exercício para Dor Musculoesquelética Crônica: Inovação pela Modificação das Memórias de Dor

 A dor musculoesquelética crônica é um desafio significativo na prática clínica, impactando milhões de pessoas globalmente. Tradicionalmente, abordagens terapêuticas focam na redução da dor e na restauração da função física, mas avanços na neurociência da dor sugerem que modificar as memórias associadas à dor pode ser um caminho inovador para o tratamento. O estudo "Exercise Therapy for Chronic Musculoskeletal Pain: Innovation by Altering Pain Memories" apresenta uma nova perspectiva sobre como a terapia por exercício pode reconfigurar o processamento neural da dor crônica, promovendo alívio duradouro e melhor funcionalidade.

A Relação Entre Memória da Dor e Persistência da Sintomatologia

Pesquisas indicam que a dor crônica não está apenas associada a processos periféricos, mas também a alterações centrais no sistema nervoso. A repetição da dor leva a adaptações nos circuitos neurais, criando um "traço de memória" que pode amplificar a percepção dolorosa, mesmo na ausência de dano estrutural significativo. Segundo o estudo, intervenções terapêuticas que visam alterar essas memórias de dor podem modificar a resposta do sistema nervoso e reduzir a hipersensibilidade associada à dor crônica.

Como o Exercício Modifica as Memórias de Dor

A terapia por exercício tem sido amplamente utilizada para tratar condições musculoesqueléticas, mas seu papel na modificação das memórias da dor é um conceito relativamente novo. O estudo destaca três mecanismos principais pelos quais o exercício pode modificar a dor crônica:

  1. Exposição Gradual à Movimentação Segura: O medo do movimento (cinesiofobia) é um fator chave na perpetuação da dor crônica. Exercícios progressivos ensinam o sistema nervoso a reinterpretar estímulos motores como não ameaçadores, reduzindo a hipersensibilidade da dor.

  2. Neuroplasticidade e Reconfiguração Neural: A atividade física regular promove mudanças no córtex somatossensorial e na rede de dor do cérebro, ajudando a reverter padrões disfuncionais de ativação neural associados à dor crônica.

  3. Regulação do Sistema Nervoso Autônomo: O exercício estimula o sistema nervoso simpático e parassimpático de maneira controlada, reduzindo o estado de hiperexcitação que frequentemente acompanha a dor persistente.

Implicações Clínicas e Aplicação na Prática

Com base nas descobertas do estudo, a implementação de programas de exercícios voltados para a modificação das memórias de dor pode representar uma abordagem inovadora e mais eficaz para a reabilitação de pacientes com dor crônica. A individualização do tratamento, respeitando a tolerância e progressão gradual do paciente, é essencial para otimizar os benefícios dessa abordagem.

Conclusão

A abordagem tradicional de tratamento da dor musculoesquelética crônica pode ser aprimorada ao considerar a influência das memórias de dor no sistema nervoso central. A terapia por exercício não apenas fortalece e melhora a funcionalidade, mas também atua na reconfiguração do processamento da dor, promovendo um alívio mais sustentável.

Referência

  • Nijs, J., Kosek, E., Van Oosterwijck, J., Meeus, M. (2020). Exercise therapy for chronic musculoskeletal pain: Innovation by altering pain memories. Journal of Pain Research, 13, 965-977.


Por Leonardo Nascimento, Ft Msc DO PhD
Fisioterapeuta
Pós-graduado em Fisioterapia Ortopédica e Desportiva pela UNICID/SP
Especialista em Terapia Manual e Postural pela Cesumar/PR
Especialista em Osteopatia pela Universidade Castelo Branco/RJ
Osteopata Certificado pela Escola de Madrid
Professor da Escola de Madrid Internacional
Mestre em Ciências – USP
Diplomado em Osteopatia pela SEFO (Scientific European Federation Osteopaths)
Doutor em Neurociências e Comportamento - FMUSP

É um estudioso da área de palpação e sensibilidade manual tátil no Laboratório de Fisioterapia e Comportamento na Universidade de São Paulo – USP

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