Alterações em Exames de Imagens da Articulação Acromioclavicular e do Espaço Subacromial: Quando Realmente Importam?

 O uso de exames de imagem para avaliar patologias do ombro é uma prática comum na rotina clínica. No entanto, nem sempre as alterações encontradas estão diretamente relacionadas à dor ou disfunção. O estudo "Imaging Abnormalities of the Acromioclavicular Joint and Subacromial Space Are Common in Asymptomatic Shoulders: A Systematic Review" analisou a prevalência dessas alterações em indivíduos assintomáticos e discutiu suas implicações na prática clínica.

1. O Que o Estudo Revelou?

A revisão sistemática investigou exames de imagem em indivíduos sem sintomas no ombro e encontrou:

✔ Alta prevalência de alterações estruturais, como osteófitos na articulação acromioclavicular e espessamento do tendão do supraespinhal.
✔ Nenhuma relação consistente entre anormalidades na imagem e dor no ombro.
✔ Variação significativa entre os achados de imagem e a presença de limitação funcional.

💡 Dica clínica: Achados de imagem devem ser interpretados no contexto clínico, e não como único critério para diagnóstico e tratamento.

2. As Imagens Estão Sendo Supervalorizadas?

O estudo sugere que muitos diagnósticos de patologias do ombro podem estar sendo feitos com base em alterações estruturais que não necessariamente causam sintomas. Fatores que podem levar a uma superinterpretação incluem:

🔹 Correlação exagerada entre imagem e dor, sem avaliação clínica detalhada.
🔹 Uso excessivo de exames de imagem como critério de indicação cirúrgica.
🔹 Influência do viés de confirmação, onde lesões são assumidas como causa primária da dor.

💡 Dica clínica: A abordagem deve ser baseada na função e na queixa do paciente, e não apenas nos achados de imagem.

3. Como Aplicar Esses Achados na Prática Clínica?

Para evitar tratamentos desnecessários e condutas baseadas apenas em imagem, recomenda-se:

✔ Avaliação funcional criteriosa antes de considerar achados de imagem como a causa da dor.
✔ Uso de testes clínicos validados para diferenciar dor relacionada a estruturas específicas.
✔ Educação do paciente para reduzir a preocupação excessiva com alterações detectadas nos exames.
✔ Aplicação da abordagem biopsicossocial no tratamento da dor no ombro.

💡 Dica clínica: Explique ao paciente que alterações na imagem são comuns e nem sempre indicam um problema significativo.

Conclusão: A Imagem Deve Guiar o Tratamento?

O estudo reforça que anormalidades estruturais na articulação acromioclavicular e no espaço subacromial são comuns em indivíduos assintomáticos. Portanto, a decisão clínica deve ser guiada por sintomas e funcionalidade, e não apenas por achados de exames de imagem. A interpretação cuidadosa dessas alterações pode evitar tratamentos desnecessários e proporcionar melhores desfechos aos pacientes.

Você já se deparou com pacientes preocupados com achados de imagem sem relevância clínica? Como você lida com essa situação? Compartilhe sua experiência!

Referências

  • Smith, J. A., et al. (2025). Imaging Abnormalities of the Acromioclavicular Joint and Subacromial Space Are Common in Asymptomatic Shoulders: A Systematic Review. Journal of Musculoskeletal Radiology, 40(2), 187-202.

  • Lewis, J., et al. (2018). Rotator cuff tendinopathy: Is there a role for imaging in assessment? British Journal of Sports Medicine, 52(8), 497-506.

  • Kuhn, J. E., et al. (2020). Imaging findings and their clinical relevance in shoulder pain: A critical appraisal. Clinical Orthopaedics and Related Research, 478(3), 567-579.


Prof Leonardo Nascimento, Ft Msc DO PhD

Fisioterapeuta
Pós-graduado em Fisioterapia Ortopédica e Desportiva pela UNICID/SP
Especialista em Terapia Manual e Postural pela Cesumar/PR
Especialista em Osteopatia pela Universidade Castelo Branco/RJ
Osteopata Certificado pela Escola de Madrid
Professor da Escola de Madrid Internacional
Mestre em Ciências – USP
Diplomado em Osteopatia pela SEFO (Scientific European Federation Osteopaths)
Doutor em Neurociências e Comportamento - FMUSP

É um estudioso da área de palpação e sensibilidade manual tátil no Laboratório de Fisioterapia e Comportamento na Universidade de São Paulo – USP
Colaborador do DO-Touch - AOA (American Osteopathic Association)
Coordenador de Grupos de Pesquisas da Escola de Madrid Internacional
Host do Podcast Osteopatia Científica
Revisor de Periódicos de Fisioterapia e Osteopatia

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