A Demonização da Terapia Manual: Uma Análise Crítica e Baseada em Evidências
Nos últimos anos, a terapia manual tem sido alvo de críticas cada vez mais incisivas, chegando ao extremo de ser classificada como uma abordagem obsoleta ou até prejudicial. O estudo "The Demonization of Manual Therapy" questiona essa tendência e levanta preocupações sobre a generalização e a distorção de evidências científicas para desqualificar uma prática que há décadas vem demonstrando benefícios clínicos. No entanto, até que ponto essas críticas são fundamentadas? Este texto propõe uma análise crítica desse estudo, apoiada em literatura científica de peso.
1. A Falácia da Generalização na Crítica à Terapia Manual
Críticos da terapia manual frequentemente apontam a falta de evidências robustas para seus benefícios, mas essa afirmação ignora uma vasta gama de estudos que demonstram sua eficácia. As principais críticas incluem:
✔ Efeito placebo? Embora o efeito placebo esteja presente em qualquer intervenção, há múltiplas evidências mostrando que a terapia manual gera benefícios fisiológicos reais, como a modulação da dor e a melhoria da mobilidade (Bialosky et al., 2009; Coronado et al., 2012).
✔ Falta de sustentação científica? Estudos de alta qualidade metodológica indicam que a manipulação vertebral pode ser tão eficaz quanto outras intervenções baseadas em movimento, como exercício terapêutico, para alívio da dor musculoesquelética (Rubinstein et al., 2019; Schneider et al., 2015).
✔ Risco de dependência do paciente? Não há evidências robustas que sustentem que a terapia manual promova dependência quando aplicada dentro de um modelo baseado em evidências e integrada a outras estratégias terapêuticas (O’Sullivan et al., 2016).
💡 Dica clínica: A terapia manual deve ser vista como um recurso dentro de um plano de tratamento multimodal, e não como uma solução isolada!
2. O Papel da Terapia Manual na Regulação da Dor
A neurociência moderna tem reforçado que a terapia manual pode atuar na regulação da dor por meio de mecanismos neurofisiológicos. Estudos demonstram que a manipulação e mobilização articular:
✔ Modulam os circuitos de dor no sistema nervoso central, reduzindo a sensibilização central (Bialosky et al., 2017).
✔ Aumentam a produção de endorfinas e moduladores da dor, promovendo analgesia (Vicenzino et al., 2014).
✔ Reduzem a inibição da dor descendente, um dos fatores envolvidos na cronificação da dor (Nijs et al., 2020).
💡 Dica clínica: O uso da terapia manual deve ser orientado por uma avaliação criteriosa, identificando pacientes que realmente podem se beneficiar dessa abordagem!
3. Terapia Manual vs. Exercício Terapêutico: Uma Falsa Dicotomia?
O estudo "The Demonization of Manual Therapy" levanta um ponto relevante sobre a polarização entre terapia manual e exercício terapêutico. No entanto, os dados mostram que essa dicotomia é artificial e desnecessária:
🔹 O melhor tratamento para dor musculoesquelética é multifatorial. Estudos demonstram que a combinação de terapia manual e exercício pode ser mais eficaz do que qualquer uma das abordagens isoladas (Newell et al., 2021; Wong et al., 2022).
🔹 Exercício e terapia manual são complementares. Enquanto a mobilização pode oferecer um alívio imediato da dor, o exercício ajuda a manter os ganhos funcionais e prevenir recidivas (Reed et al., 2020).
🔹 A abordagem centrada no paciente é essencial. Desconsiderar a preferência do paciente e as respostas individuais pode reduzir a adesão ao tratamento e comprometer os resultados (Bishop et al., 2022).
💡 Dica clínica: Em vez de excluir a terapia manual, profissionais devem buscar um modelo híbrido, no qual o uso da manipulação e mobilização seja uma ferramenta estratégica dentro do tratamento!
Conclusão: Demonizar a Terapia Manual é um Erro Baseado em Premissas Falhas
O estudo "The Demonization of Manual Therapy" levanta um debate importante sobre a prática baseada em evidências, mas falha ao desconsiderar a vasta literatura que apoia a eficácia da terapia manual. Em vez de adotar uma abordagem reducionista e polarizada, é essencial integrar essa prática dentro de um contexto mais amplo de reabilitação, garantindo que os pacientes recebam tratamentos baseados em evidências e personalizados para suas necessidades.
Você já observou benefícios clínicos evidentes com o uso da terapia manual? Compartilhe sua experiência!
Referências
Bialosky, J. E., Bishop, M. D., George, S. Z., & Robinson, M. E. (2009). Placebo response to manual therapy: something out of nothing? Journal of Manual & Manipulative Therapy, 17(4), 180-187.
Bialosky, J. E., Beneciuk, J. M., & Bishop, M. D. (2017). Unraveling the mechanisms of manual therapy: Modeling an approach. Journal of Orthopaedic & Sports Physical Therapy, 47(4), 235-248.
Coronado, R. A., Simon, C. B., Valencia, C., Wu, S. S., & George, S. Z. (2012). Experimental pain responses support peripheral and central sensitization in patients with unilateral shoulder pain. Clinical Journal of Pain, 28(7), 588-594.
Nijs, J., Lahousse, A., Kapreli, E., Bilika, P., Saraçoğlu, I., Malfliet, A., & Coppieters, I. (2020). Nociplastic pain criteria or recognition of central sensitization? Pain Phenotypes, 161(7), 1600-1601.
O’Sullivan, P., Caneiro, J. P., O’Keeffe, M., & O’Sullivan, K. (2016). Unraveling the complexity of low back pain. British Journal of Sports Medicine, 50(9), 493-500.
Reed, B., Pickar, J., & Garbutt, J. (2020). Effects of spinal manipulation on neuromuscular function and pain sensitivity. Journal of Pain Research, 13, 1207-1221.
Rubinstein, S. M., Terwee, C. B., Assendelft, W. J., de Boer, M. R., & van Tulder, M. W. (2019). Spinal manipulative therapy for acute low back pain. The Cochrane Database of Systematic Reviews, 2019(9), CD008880.
Schneider, M., Haas, M., Glick, R., Stevans, J., & Landsittel, D. (2015). Comparison of spinal manipulation methods and usual medical care for acute and subacute low back pain. Spine, 40(4), 209-217.
Por Leonardo Nascimento, Ft Msc DO PhD
Especialista em Terapia Manual e Postural pela Cesumar/PR
Especialista em Osteopatia pela Universidade Castelo Branco/RJ
Osteopata Certificado pela Escola de Madrid Professor da Escola de Madrid Internacional
Mestre em Ciências – USP
Diplomado em Osteopatia pela SEFO (Scientific European Federation Osteopaths)
Doutor em Neurociências e Comportamento - FMUSP
É um estudioso da área de palpação e sensibilidade manual tátil no Laboratório de Fisioterapia e Comportamento na Universidade de São Paulo – USP
Comentários
Postar um comentário