Osteopatia Visceral: O Que Mostram as Revisões Sistemáticas Mais Relevantes?

 A osteopatia visceral é frequentemente promovida como uma abordagem eficaz para tratar disfunções digestivas, ginecológicas e viscerossomáticas. Mas o que dizem as revisões sistemáticas da literatura? Qual é o real impacto dessa abordagem sob o olhar da prática baseada em evidências? Neste artigo, exploramos as três principais revisões sistemáticas que avaliaram a eficácia da osteopatia visceral, com foco em mecanismos, resultados clínicos e qualidade metodológica dos estudos.

1. Guillaud et al. (2018) — Revisão Geral da Osteopatia Visceral

Esta é a revisão sistemática mais abrangente sobre osteopatia visceral até hoje. Os autores analisaram 17 estudos clínicos e buscaram compreender tanto os efeitos quanto os possíveis mecanismos de ação da técnica.

✔ Principais achados: Resultados promissores para dor lombar, constipação, dismenorreia e SII (síndrome do intestino irritável), mas com baixa qualidade metodológica em grande parte dos estudos.
✔ Limitação: Poucos estudos utilizaram grupos controle adequados ou foram cegos para avaliadores.
✔ Importância: Destaca a necessidade de maior padronização nas técnicas aplicadas e no relato dos resultados.

💡 Dica clínica: A osteopatia visceral não pode ser aplicada de forma isolada e dogmática. Deve estar inserida em um raciocínio clínico multifatorial.

2. Chimenti et al. (2022) — Foco em Distúrbios Gastrointestinais

Essa revisão e meta-análise examinou a eficácia da OMT visceral em condições como constipação funcional, SII e refluxo gastroesofágico.

✔ Principais achados: A OMT visceral apresentou redução significativa de sintomas gastrointestinais comparada ao placebo ou cuidados usuais.
✔ Força do estudo: Inclusão de apenas ensaios clínicos randomizados e análise estatística quantitativa dos efeitos.
✔ Limitação: Alta heterogeneidade entre os protocolos utilizados e dificuldade de cegamento devido à natureza da intervenção.

💡 Dica clínica: Use os resultados como um indicativo, mas mantenha senso crítico sobre o contexto e expectativas do paciente.

3. Cerritelli et al. (2016) — Intervenção em Recém-nascidos Prematuros

Embora focada em neonatologia, essa revisão é relevante por sua qualidade metodológica e uso de desfechos objetivos (tempo de internação, função intestinal).

✔ Principais achados: A OMT (com componentes viscerais) reduziu o tempo de hospitalização e melhorou o funcionamento gastrointestinal dos bebês.
✔ Destaque: Estudos incluíram grupos controle e usaram métodos cego-parciais para reduzir viés.
✔ Aplicabilidade: Embora os resultados não possam ser diretamente extrapolados para adultos, demonstram efeito fisiológico potencial das técnicas.

💡 Dica clínica: A reprodutibilidade e segurança da técnica são cruciais, principalmente em populações vulneráveis.

Conclusão: Onde Estamos na Osteopatia Visceral?

As revisões sistemáticas mostram que a osteopatia visceral pode ter efeitos clínicos positivos, especialmente em distúrbios gastrointestinais e dor funcional. No entanto, as evidências ainda são limitadas por falhas metodológicas e falta de padronização das intervenções. A ciência aponta caminhos, mas exige senso crítico, formação adequada e aplicação contextualizada.

Você utiliza osteopatia visceral na sua prática? Quais são os desafios e benefícios percebidos com seus pacientes? Compartilhe sua experiência!

Referências

  • Guillaud, A., et al. (2018). Visceral osteopathy: A systematic review of effect and mechanisms. Journal of Bodywork and Movement Therapies, 22(3), 544–552.

  • Chimenti, R. L., et al. (2022). Effectiveness of osteopathic manipulative treatment for gastrointestinal disorders: a systematic review and meta-analysis. Complementary Therapies in Medicine, 70, 102861.

  • Cerritelli, F., et al. (2016). Effect of osteopathic manipulative treatment on gastrointestinal function and symptoms in preterm infants: a systematic review and meta-analysis. PLOS ONE, 11(11), e0165643.


Prof Leonardo Nascimento, Ft Msc DO PhD

Fisioterapeuta
Pós-graduado em Fisioterapia Ortopédica e Desportiva pela UNICID/SP
Especialista em Terapia Manual e Postural pela Cesumar/PR
Especialista em Osteopatia pela Universidade Castelo Branco/RJ
Osteopata Certificado pela Escola de Madrid
Professor da Escola de Madrid Internacional
Mestre em Ciências – USP
Diplomado em Osteopatia pela SEFO (Scientific European Federation Osteopaths)
Doutor em Neurociências e Comportamento - FMUSP

É um estudioso da área de palpação e sensibilidade manual tátil no Laboratório de Fisioterapia e Comportamento na Universidade de São Paulo – USP
Colaborador do DO-Touch - AOA (American Osteopathic Association)
Coordenador de Grupos de Pesquisas da Escola de Madrid Internacional
Host do Podcast Osteopatia Científica
Pesquisador do CABSIN (Consórcio Acadêmico Brasileiro de Saúde Integrativa)
Revisor de Periódicos de Fisioterapia e Osteopatia

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