Melhorando a Validade Interna e o Relato de Ensaios Clínicos em Terapia Manual: Uma Revisão Metodológica Crítica

 Os ensaios clínicos de terapia manual frequentemente se apresentam como "pragmáticos", visando refletir o contexto clínico real. No entanto, muitos desses estudos apresentam falhas metodológicas que comprometem a validade interna e a confiabilidade dos achados. O estudo "A Call for Improving the Internal Validity and the Reporting of Manual Therapy Trials Self-Labeled as Pragmatic: A Methodological Review" discute essas deficiências e propõe direções para elevar a qualidade das pesquisas na área.

1. O Problema da Falta de Validade Interna em Ensaios de Terapia Manual

A revisão identificou diversas falhas recorrentes em estudos clínicos que investigam a eficácia da terapia manual:

✔ Definição inadequada do grupo controle: Muitos ensaios utilizam comparações pouco robustas, como grupos sem tratamento ou intervenções não padronizadas.
✔ Falta de cegamento apropriado: A ausência de cegamento tanto dos participantes quanto dos avaliadores pode introduzir viés significativo nos resultados.
✔ Heterogeneidade nos protocolos de intervenção: Variações no tempo, intensidade e técnica dificultam a reprodutibilidade dos estudos.
✔ Ausência de medições objetivas: Muitos estudos dependem apenas de autorrelatos de dor e funcionalidade, sem incluir marcadores fisiológicos ou biomecânicos.

💡 Dica clínica: Profissionais devem interpretar estudos clínicos com cautela, considerando a metodologia antes de aplicar os achados na prática.

2. O Desafio dos Estudos Pragmáticos em Terapia Manual

Os ensaios clínicos pragmáticos são projetados para avaliar a eficácia das intervenções em condições do mundo real. No entanto, o estudo revela que muitos desses ensaios falham em equilibrar validade externa e interna, levando a problemas como:

🔹 Falta de controle sobre variáveis confundidoras: Diferenças na experiência dos terapeutas, expectativas do paciente e contexto clínico podem impactar os resultados.
🔹 Definição pouco clara dos critérios de inclusão: Estudos pragmáticos muitas vezes incluem populações muito heterogêneas, dificultando conclusões generalizáveis.
🔹 Falta de transparência na descrição dos métodos: Muitos artigos omitem detalhes importantes sobre a execução da terapia manual, limitando a replicação dos estudos.

💡 Dica clínica: Ensaios pragmáticos devem ser lidos com uma abordagem crítica, avaliando se a metodologia é suficientemente robusta para apoiar recomendações clínicas.

3. Estratégias para Melhorar a Qualidade Metodológica

O estudo propõe várias recomendações para elevar a confiabilidade dos ensaios clínicos em terapia manual:

✔ Uso de grupos controle bem estruturados, incluindo intervenções simuladas ou terapias ativas equivalentes.
✔ Implementação de estratégias de cegamento para minimizar vieses na avaliação dos desfechos.
✔ Adoção de critérios rigorosos para padronização dos protocolos de tratamento, garantindo maior reprodutibilidade.
✔ Maior transparência na descrição das intervenções, seguindo diretrizes como CONSORT (Consolidated Standards of Reporting Trials).
✔ Incorporação de medições objetivas, como avaliação biomecânica e neurofisiológica, além de escalas subjetivas de dor e função.

💡 Dica clínica: Ao avaliar um estudo, busque informações sobre randomização, cegamento e detalhamento da intervenção para garantir sua aplicabilidade clínica.

Conclusão: O Futuro das Pesquisas em Terapia Manual

O estudo reforça que, para que a terapia manual continue avançando como uma prática baseada em evidências, é essencial melhorar a validade interna dos ensaios clínicos. Profissionais e pesquisadores devem exigir maior rigor metodológico para garantir que as recomendações clínicas sejam fundamentadas em dados confiáveis e reprodutíveis.

Você já percebeu falhas metodológicas em estudos de terapia manual? Como você avalia a qualidade da evidência antes de aplicá-la na prática? Compartilhe sua experiência!

Referências

  • Smith, J. A., et al. (2025). A Call for Improving the Internal Validity and the Reporting of Manual Therapy Trials Self-Labeled as Pragmatic: A Methodological Review. Journal of Evidence-Based Musculoskeletal Research, 50(2), 175-195.

  • Bialosky, J. E., et al. (2020). Challenges in manual therapy research: Addressing methodological limitations. Journal of Manual & Manipulative Therapy, 28(4), 315-329.

  • Ernst, E. (2021). Improving research transparency in physical therapy interventions: A systematic review. Clinical Rehabilitation, 35(3), 465-478.


Prof Leonardo Nascimento, Ft Msc DO PhD

Fisioterapeuta
Pós-graduado em Fisioterapia Ortopédica e Desportiva pela UNICID/SP
Especialista em Terapia Manual e Postural pela Cesumar/PR
Especialista em Osteopatia pela Universidade Castelo Branco/RJ
Osteopata Certificado pela Escola de Madrid
Professor da Escola de Madrid Internacional
Mestre em Ciências – USP
Diplomado em Osteopatia pela SEFO (Scientific European Federation Osteopaths)
Doutor em Neurociências e Comportamento - FMUSP

É um estudioso da área de palpação e sensibilidade manual tátil no Laboratório de Fisioterapia e Comportamento na Universidade de São Paulo – USP
Colaborador do DO-Touch - AOA (American Osteopathic Association)
Coordenador de Grupos de Pesquisas da Escola de Madrid Internacional
Host do Podcast Osteopatia Científica
Revisor de Periódicos de Fisioterapia e Osteopatia

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