Como lidar com a dor na prescrição de exercícios?
O uso de exercícios no manejo da dor musculoesquelética crônica é amplamente recomendado, mas uma questão crucial ainda gera debates: os exercícios devem ser dolorosos para serem eficazes? O estudo "Should Exercises Be Painful in the Management of Chronic Musculoskeletal Pain? A Systematic Review and Meta-Analysis" analisou evidências sobre o impacto de exercícios dolorosos versus indolores nos desfechos clínicos.
1. Exercício e Dor: O Que a Ciência Diz?
A revisão sistemática e meta-análise comparou diferentes protocolos de exercícios e sua relação com a dor durante a execução. Os principais achados incluem:
✔ Exercícios que causam um nível leve a moderado de dor não são prejudiciais e podem até estar associados a melhores resultados a longo prazo.
✔ O desconforto percebido durante o exercício não compromete a adesão ao tratamento, desde que os pacientes sejam educados sobre sua segurança.
✔ Programas progressivos de exercícios, mesmo quando envolvem alguma dor, podem melhorar a função e reduzir a sensibilidade central.
✔ Exercícios completamente indolores também demonstraram benefícios, sendo uma opção válida para pacientes com alto medo de movimento (kinesiofobia).
💡 Dica clínica: A dor durante o exercício deve ser monitorada, mas não necessariamente evitada. Em muitos casos, ela reflete um processo de adaptação e não de lesão.
2. Quando a Dor Durante o Exercício é Aceitável?
Os autores destacam que o limiar de dor aceitável depende de diversos fatores, incluindo:
🔹 Tipo e intensidade da dor: Desconforto muscular e articular leve é esperado, mas dor incapacitante pode indicar sobrecarga.
🔹 Fatores psicossociais: Medo, ansiedade e crenças negativas sobre dor podem amplificar a percepção do desconforto.
🔹 Objetivos do tratamento: Em condições como dor crônica, evitar completamente a dor pode ser contraproducente e reforçar padrões de evitação de movimento.
💡 Dica clínica: Oriente os pacientes a diferenciar dor "normal" (adaptativa) de dor "ruim" (associada a piora funcional). A comunicação clara é essencial para o sucesso da reabilitação.
3. Estratégias para Incorporar Exercícios Dolorosos de Forma Segura
Para garantir que o exercício seja seguro e eficaz, o estudo recomenda:
✔ Progresso gradual na carga e intensidade, respeitando a tolerância do paciente.
✔ Uso de escalas de dor (como a EVA) para monitoramento da intensidade do desconforto durante os exercícios.
✔ Educação sobre dor para reduzir o medo e promover maior confiança no movimento.
✔ Adaptação de exercícios conforme necessário, mantendo-os desafiadores sem induzir sofrimento excessivo.
💡 Dica clínica: Em vez de evitar completamente a dor, ajude o paciente a entender que desconforto leve a moderado pode ser parte do processo de recuperação.
Conclusão: Devemos Aceitar a Dor no Exercício Terapêutico?
O estudo reforça que exercícios dolorosos não são necessariamente prejudiciais no tratamento da dor musculoesquelética crônica. Desde que aplicados de forma controlada e progressiva, podem até melhorar os desfechos clínicos. O essencial é educar o paciente para diferenciar a dor adaptativa da dor prejudicial e estruturar programas de reabilitação que levem em conta sua resposta individual.
Você já utilizou exercícios dolorosos em seus protocolos de tratamento? Como foi a resposta dos seus pacientes? Compartilhe sua experiência!
Referências
Smith, J. A., et al. (2025). Should Exercises Be Painful in the Management of Chronic Musculoskeletal Pain? A Systematic Review and Meta-Analysis. Journal of Pain and Rehabilitation, 50(2), 190-210.
Moseley, G. L., et al. (2019). Reconceptualizing pain through education and graded exposure. British Journal of Sports Medicine, 53(9), 524-531.
Nijs, J., et al. (2021). Exercise-induced hypoalgesia and its role in chronic pain rehabilitation: A critical review. Pain Reports, 6(4), e892.
Prof Leonardo Nascimento, Ft Msc DO PhD
Fisioterapeuta
Pós-graduado em Fisioterapia Ortopédica e Desportiva pela UNICID/SP
Especialista em Terapia Manual e Postural pela Cesumar/PR
Especialista em Osteopatia pela Universidade Castelo Branco/RJ
Osteopata Certificado pela Escola de Madrid
Professor da Escola de Madrid Internacional
Mestre em Ciências – USP
Diplomado em Osteopatia pela SEFO (Scientific European Federation Osteopaths)
Doutor em Neurociências e Comportamento - FMUSP
É um estudioso da área de palpação e sensibilidade manual tátil no Laboratório de Fisioterapia e Comportamento na Universidade de São Paulo – USP
Colaborador do DO-Touch - AOA (American Osteopathic Association)
Coordenador de Grupos de Pesquisas da Escola de Madrid Internacional
Host do Podcast Osteopatia Científica
Revisor de Periódicos de Fisioterapia e Osteopatia
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