Vamos conversar sobre manipulações cervicais?

      

      Em uma publicação Wu et al, 2012 analisaram a influencia da posição da coluna cervical, o tempo de rotação e o segmento manipulado em discos intervertebrais de cadáveres durante a realização de procedimentos de manipulação da coluna cervical.

Foram utilizados 7 cadáveres frescos - 24h pós morte - e foram analisados 2 procedimentos manipulativos um em rotação e outro em estiramento ou lateralidade. Os parâmetros avaliados foram a pressão intradiscal nos discos de C3/C4, C4/C5 e C5/C6 em 4 diferentes estágios da manipulação: repouso ou fisiológico, final da tração, rotação e final. Foram realizadas as manipulações em 5 posições diferentes da cervical - extensão 20°, extensão 10°, neutro, flexão 10°, flexão 20° e 3 diferentes tempos de rotações - 0,06 seg, 0,11 seg e 0,16 seg.

A variação da pressão intradiscal apresentou um padrão em "V"  durante a SMT. Os 4 estágios de manipulação tiveram diferenças significativas (F = 5.498,956; P <0,001). Houve também diferenças significativas na pressão intradiscal entre 5 posições cervicais ([F = 1.371,216; P <.001], [flexão 20 °> flexão de 10 °> posição neutra> extensão de 10 °> extensão de 20 °]). A pressão intradiscal era menor em extensão de 20 ° combinado com um tempo de rotação de 0,16 segundo.

O que os autores concluem é que diferentes posições, tempos de execução e segmentos cervicais interferem na pressão do disco intervertebral. Os autores não relataram nenhum perigo ou dano durante a realização do procedimento.

Em um ECR (Ensaio Clínico Randomizado) multicentrico realizado por Dunning et al, 2012 em que foram comparados manipulações e mobilizações da coluna cervical e da torácica alta em pacientes com dor cervical e seus efeitos em curto prazo.

Os parâmetros avaliados foram o questionário Neck Disability Índex, uma escala numérica de dor, o teste de flexão rotação para mensuração da rotação de C1-C2 passivo e a flexão craniocervical.

Foram avaliados um total de 107 pacientes e após randomização, foram divididos em 2 grupos - manipulação cervical (C1-2) e torácica (T1-2) ou  mobilização cervical (C1-2) e torácica (T1-2).

Os resultados apresentados demonstraram que os pacientes que receberam manipulações tiveram uma maior melhora nos parâmetros analisados nesse estudo.
Em um outro estudo Leaver et al, 2010 realizaram um ECR comparando manipulações e mobilizações para dor cervical recente com um total de 182 pacientes com quadro de dor cervical há pelo menos 3 meses.Os participantes foram randomizados em dois grupos com 91 indivíduos em cada e ambos os grupos receberam 4 tratamentos em 2 semanas.

O desfecho principal avaliado foi o número de dias para a recuperação do quadro agudo. E o numero de dias que o grupo manipulação demorou para a recuperação foi de 47 e o de mobilização 43 dias.

Os resultados demonstram que em casos de dor aguda cervical a manipulação não é mais efetiva que a mobilização.


Quando nos deparamos com estudos conflitantes como esses três, temos que procurar um estudo que contemple todos os ECRs anteriores, esse estudo é a Revisão Sistemática.

E quando procuramos as revisões sistemáticas sobre o tema encontramos uma em 2010 e sua continuidade em 2015 e faremos uma breve descrição das duas para verificarmos a evolução dos estudos.

Em 2010, Gross et al, sob o título de Manipulation or mobilisation for neck pain, encontraram 27 ECRS com um total de 1522 participantes. Os resultados de manipulação e mobilização para dor aguda cervical foram de moderada qualidade para dor, função e satisfação do paciente. Evidencia de baixa qualidade para manipulação sozinha comparada com controle com efeitos em curto prazo em 1 a 4 sessões, e 9 a 12 sessões em média para cefaléia cervicogênica. A manipulação para a coluna toracica em casos de dores agudas ou crônicas cervicais temos baixa qualidade de evidência para dor e melhora de função. A mobilização para dor crônica cervical temos baixa qualidade e quando comparadas com acupuntura ou Maitland os resultados foram similares, com exceção da mobilização neural que provocou uma redução significativa na dor pós tratamento.

Com esses dados, os autores concluem que a manipulação e mobilização cervicais produzem melhoras similares tanto imediatos ou em curto prazo. Nos casos de problemas toracicos, a manipulação melhora a dor e a função. Não houve um consenso em quais técnicas utilizar para melhores resultados.

   E essa revisão foi atualizada em 2015 por Gross et al - mudaram os outros autores do grupo - e o título foi Manipulation and mobilisation for neck pain contrasted against an inactiv control or another active treatment.

Com um título mais amplo o trabalho desta vez verificou os efeitos da manipulação  ou mobilização sozinhas comparadas com um controle inativo ou algum outro tratamento ativo para os desfechos de dor, função, incapacidade, satisfação do paciente, qualidade de vida e percepção global da experiência em adultos com dores cervicais com ou sem sintomas radiculares e cefaléia cervicogênica em curto prazo e imediato.

Foram incluídos 51 ECR com um total de 2920 participantes, 18 ensaios sobre manipularão/mobilização versus controle, 34 ensaios de manipularão/mobilização versus outro tratamento, 1 ensaio fez 2 comparações.

A manipulação cervical comparada com controle inativo para dor subjugada e crónica cervical com um tratamento de uma única sessão melhorou a dor imediatamente mas não em curto prazo.

A manipulação cervical comparada a outro controle de tratamento ativo para dor aguda e crónica cervical com múltiplas sessões de manipulação cervical produziu resultados similares em dor, função, qualidade de vida, percepção global dos efeitos e satisfação do paciente quando comparado com múltiplas sessões de mobilizarão cervical em curto prazo, médio prazo e imediato.

Para dor cervical aguda e subaguda, múltiplas sessões de manipulação cervical foram mais efetivas a longo prazo.Para cefaléia cervicogênica, múltiplas sessões de manipulação cervical se mostraram mais efetivas do que massagem para melhora da dor e função em curto e médio prazo. Da mesma maneira que muitas sessões de manipulação apresentam melhor resultado para dor em curto prazo em relação ao TENS.

Para dor aguda cervical, múltiplas sessões de manipulação cervical foram mais efetivas na melhora da dor e função em curto e médio prazo. E a manipulação torácica foi mais efetiva que o controle inativo em curto e médio prazo e imediatamente.

A manipulação toracica frente a outros tratamentos ativos não foram encontrados estudos para uma analise estatística. E quando compara se uma única sessão  de manipulação torácica com mobilização para alivio da dor em médio prazo encontramos qualidade moderada.

A mobilizarão versus controle inativo não alterou para a dor. E a mobilização versus outro tratamento ativo para dor aguda e subguda, a mobilização antero posterior favoreceu a redução da dor quando comparada com mobilizações em rotação ou transversais em médio prazo.

Nos casos de cefaléias cervicogênicas com problemas temporomandibulares, multiplas sessões de terapia manual foram mais efetivas do que mobilização cervical na dor e função em médio prazo.

Para dores subagudas e cronicas, a mobilização cervical sozinha não apresentou diferenças em relação ao US, TENS, acupuntura e massagem na dor e função, qualidade de vida e satisfação do paciente imediatamente após o tratamento.

Quando comparamos a manipulação com o laser, esses recursos isolados parecem ser mais efetivos do que em conjunto.

Os autores concluem então que os achados nos mostram que a manipulação e a mobilizarão tem resultados semelhantes frente ao grupo controle, qualquer que seja, ativo ou passivo. E apresentam os mesmos resultados para melhora dos parâmetros avaliados imediatamente após o tratamento e em curto , médio e longo prazos. 

E ainda os autores concluem que múltiplos atendimentos de manipulação cervical parecem ser melhores para a redução da dor e função do que certos medicamentos imediatamente após e em curto, médio e longo prazos


Escrito por

Leonardo Nascimento, Ft Msc ETM DO
Fisioterapeuta pela UNICID/SP
Pós graduado em Fisioterapia Ortopédica e Desportiva pela UNICID/SP
Especialista em Terapia Manual e Postural pela Cesumar/PR
Especialista em Osteopatia pela Universidade Castelo Branco/RJ
Osteopata Certificado pela Escola de Madrid
Professor e Coordenador da Escola de Madrid
Mestre e Doutorando em Ciências da Reabilitação – USP
Diplomado em Osteopatia pela SEFO (Scientific European Federation Osteopaths)


É um estudioso da área de palpação e sensibilidade manual tátil no Laboratório de Fisioterapia e Comportamento na Universidade de São Paulo – USP



Bibliografia


Wu LP, Huang YQ, Zhou WH, Manas D, Zhao WD, Chen JZ, Yin QS, Wang LH. Influence of cervical spine position, turning time, and cervical segment on cadaver intradiscal pressure during cervical spinal manipulative therapy. J Manipulative Physiol Ther. 2012 Jul;35(6):428-36. doi: 10.1016/j.jmpt.2012.06.005. Epub 2012 Aug 22.

Dunning JR1, Cleland JA, Waldrop MA, Arnot CF, Young IA, Turner M, Sigurdsson G. Upper cervical and upper thoracic thrust manipulation versus nonthrust mobilization in patients with mechanical neck pain: a multicenter randomized clinical trial. J Orthop Sports Phys Ther. 2012 Jan;42(1):5-18. doi: 10.2519/jospt.2012.3894. Epub 2011 Sep 30.

Leaver AM1, Maher CG, Herbert RD, Latimer J, McAuley JH, Jull G, Refshauge KM. A randomized controlled trial comparing manipulation with mobilization for recent onset neck pain. Arch Phys Med Rehabil. 2010 Sep;91(9):1313-8. doi: 10.1016/j.apmr.2010.06.006.

Gross A1, Miller J, D'Sylva J, Burnie SJ, Goldsmith CH, Graham N, Haines T, Brønfort G, Hoving JL. Manipulation or mobilisation for neck pain. Cochrane Database Syst Rev. 2010 Jan 20;(1):CD004249. doi: 10.1002/14651858.CD004249.pub3.

Gross A1, Langevin P, Burnie SJ, Bédard-Brochu MS, Empey B, Dugas E, Faber-Dobrescu M, Andres C, Graham N, Goldsmith CH, Brønfort G, Hoving JL, LeBlanc F. Manipulation and mobilisation for neck pain contrasted against an inactive control or another active treatment. Cochrane Database Syst Rev. 2015 Sep 23;9:CD004249. doi: 10.1002/14651858.CD004249.pub4.





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