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Mostrando postagens de março, 2025

Sistema Nervoso Autonômico: novas perspectivas na reabilitação

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 A relação entre o sistema nervoso autonômico e técnicas de terapia manual tem ganhado destaque na literatura científica. Entre essas abordagens, o V-spread — especialmente em sua versão modificada aplicada na sutura occipitomastóidea — vem sendo investigado por seus potenciais efeitos sobre os ramos simpático e parassimpático. O artigo "Autonomic Rehabilitation: Vagal and Sympathetic Impacts of Modified Occipitomastoid Suture V-spread" propõe uma análise aprofundada dos mecanismos autonômicos envolvidos e suas possíveis aplicações clínicas. 1. V-Spread e Sutura Occipitomastóidea: Fundamentos Anatômicos e Funcionais A técnica de V-spread consiste na aplicação de uma força manual suave sobre a região de uma sutura craniana, com o objetivo de estimular a liberação das tensões e promover equilíbrio das forças mecânicas locais. A sutura occipitomastóidea, onde o osso occipital encontra o osso temporal, está próxima de estruturas neurológicas relevantes: ✔  Nervo vago (par cranian...

Diagnóstico em Osteopatia: Estamos Mesmo Acertando?

A arte do diagnóstico é, sem dúvida, uma das competências mais valorizadas na prática osteopática. No entanto, muitos profissionais ainda constroem seus raciocínios clínicos a partir de modelos desatualizados, centrados em suposições anatômicas frágeis, interpretações ambíguas de testes manuais e uma confiança excessiva na experiência subjetiva. Isso não apenas compromete a precisão diagnóstica, mas também pode alimentar um ciclo de intervenções ineficazes, exames desnecessários e mensagens clínicas que reforçam crenças equivocadas no paciente. Modelos diagnósticos como a “disfunção somática” — tradicionalmente considerados pilares da osteopatia — têm sido amplamente criticados por sua baixa confiabilidade, ausência de validade clínica e por promoverem uma visão mecanicista e reducionista do corpo humano. Diagnósticos baseados apenas na sensibilidade à palpação, em assimetrias posturais ou em testes com validade duvidosa deixam o profissional vulnerável ao erro e ao viés de confirm...

Os Mecanismos da Terapia Manual: O Que a Ciência Realmente Diz?

 Por muitos anos, a eficácia da terapia manual foi atribuída principalmente a correções biomecânicas ou liberação de estruturas anatômicas restritas. No entanto, a ciência contemporânea vem questionando essas explicações simplistas, propondo uma visão mais integrada e neurofisiológica dos efeitos terapêuticos. O estudo "The Mechanisms of Manual Therapy: A Living Review of Systematic, Narrative, and Scoping Reviews" oferece uma síntese abrangente das evidências disponíveis, revelando a complexidade dos mecanismos envolvidos e seus impactos clínicos. 1. Para Além da Biomecânica: Uma Visão Multissistêmica A revisão destaca que os efeitos da terapia manual não podem ser explicados apenas por alterações articulares ou liberação de tecidos moles. Em vez disso, os mecanismos são distribuídos em três grandes domínios: 🔹  Neurofisiológicos:  Incluem modulação da dor por meio de vias descendentes, liberação de opioides endógenos, alterações no córtex sensoriomotor e mudanças na ex...

Controle Motor: A Base Científica que Está Revolucionando a Reabilitação!

 O conceito de controle motor é central para a compreensão e reabilitação de disfunções musculoesqueléticas e neurológicas. O artigo "Motor Control: A Conceptual Framework for Rehabilitation" de Mindy F. Levin e Daniele Piscitelli propõe um modelo abrangente que orienta profissionais da saúde na avaliação e intervenção terapêutica, integrando neurociência, biomecânica e aprendizagem motora. 1. O Que É Controle Motor e Por Que Ele Importa? Controle motor é a capacidade do sistema nervoso de planejar, iniciar e regular o movimento voluntário. Ele envolve a interação dinâmica entre: ✔ Sistemas sensoriais (propriocepção, visão, vestibular); ✔ Processamento central (córtex motor, cerebelo, gânglios da base); ✔ Sistemas efetores (músculos esqueléticos). Esses componentes trabalham juntos para produzir movimentos coordenados, eficientes e adaptáveis às demandas ambientais e às tarefas funcionais. 💡  Dica clínica:  A disfunção do controle motor pode se manifestar como dor recorr...

A Importância da Prática Baseada em Evidências na Terapia Manual: O Que a Ciência Nos Mostra?

 A terapia manual é amplamente utilizada no tratamento de diversas condições musculoesqueléticas. No entanto, sua eficácia e aplicabilidade clínica devem ser fundamentadas em evidências científicas robustas para garantir segurança e eficácia no cuidado ao paciente. A Prática Baseada em Evidências (PBE) tem um papel fundamental na evolução da terapia manual, guiando o desenvolvimento de técnicas, a interpretação dos mecanismos de ação e a escolha das melhores abordagens terapêuticas. A seguir, apresentamos um resumo dos principais textos do blog que abordam esse tema, destacando achados relevantes sobre metodologia científica, eficácia clínica e desafios na pesquisa em terapia manual. 1. Validade Interna e Relato de Ensaios Clínicos em Terapia Manual Muitos estudos clínicos em terapia manual são autodenominados "pragmáticos", mas falham em garantir validade interna adequada. Revisões metodológicas apontam problemas recorrentes, como:  ✔ Grupos controle inadequados ou inexisten...

Testes de Mobilidade da Articulação Sacroilíaca: Eles São Realmente Confiáveis?

 A articulação sacroilíaca (ASI) é frequentemente implicada como uma fonte de dor lombar e pélvica, levando muitos clínicos a utilizarem testes de mobilidade para avaliação. No entanto, a precisão e confiabilidade desses testes ainda são amplamente debatidas. O estudo "Clinimetric Properties of Sacroiliac Joint Mobility Tests: A Systematic Review" revisou criticamente a literatura para avaliar as propriedades clinimétricas dessas avaliações. 1. Testes de Mobilidade da ASI: O Que São e Como Funcionam? Os testes de mobilidade da articulação sacroilíaca visam identificar disfunções articulares por meio de palpação e avaliação de deslocamento entre o sacro e os ilíacos. Entre os mais utilizados estão: ✔  Teste de Gillet:  Avalia o movimento do sacro em relação ao ilíaco durante a flexão do quadril. ✔  Teste de Standing Flexion:  Observa a assimetria do movimento pélvico ao inclinar-se para frente. ✔  Teste de Marcha de Piedallu:  Avalia possíveis restriçõe...

Melhorando a Validade Interna e o Relato de Ensaios Clínicos em Terapia Manual: Uma Revisão Metodológica Crítica

 Os ensaios clínicos de terapia manual frequentemente se apresentam como "pragmáticos", visando refletir o contexto clínico real. No entanto, muitos desses estudos apresentam falhas metodológicas que comprometem a validade interna e a confiabilidade dos achados. O estudo "A Call for Improving the Internal Validity and the Reporting of Manual Therapy Trials Self-Labeled as Pragmatic: A Methodological Review" discute essas deficiências e propõe direções para elevar a qualidade das pesquisas na área. 1. O Problema da Falta de Validade Interna em Ensaios de Terapia Manual A revisão identificou diversas falhas recorrentes em estudos clínicos que investigam a eficácia da terapia manual: ✔  Definição inadequada do grupo controle:  Muitos ensaios utilizam comparações pouco robustas, como grupos sem tratamento ou intervenções não padronizadas. ✔  Falta de cegamento apropriado:  A ausência de cegamento tanto dos participantes quanto dos avaliadores pode introduzir viés si...

Complexo Trigemino-Cervical: A Rede Neural que Influencia a Cabeça e o Pescoço

 A conexão entre o sistema trigeminal e a região cervical tem implicações clínicas significativas no manejo da dor craniofacial e cervical. O estudo "Trigeminal Cervical Complex: A Neural Network Affecting the Head and Neck" explora essa inter-relação neuroanatômica e suas repercussões na prática clínica. 1. O Que é o Complexo Trigemino-Cervical? O complexo trigemino-cervical (CTC) é uma estrutura neural integrada que conecta as vias aferentes do nervo trigêmeo com a medula cervical superior. Suas principais características incluem: ✔  Interação entre os nervos trigêmeo e cervical superior , explicando a sobreposição de sintomas entre cefaleias e disfunções cervicais. ✔  Convergência de estímulos nociceptivos na medula espinhal superior , potencializando a sensibilização central. ✔  Implicações no processamento da dor e reflexos autonômicos , o que pode influenciar a fisiopatologia de condições como enxaqueca, cefaleia cervicogênica e dor miofascial no pescoço. 💡...

Osteopatia e Saberes Indígenas: Como Integrar Ciência e Tradição no Cuidado ao Paciente?

 A osteopatia tem sido historicamente influenciada por diversas tradições filosóficas e médicas. No entanto, a integração de epistemologias indígenas no cuidado osteopático ainda é um campo pouco explorado. O estudo "Indigenous Epistemological Frameworks and Evidence-Informed Approaches to Consciousness and Body Representations in Osteopathic Care: A Call for Academic Engagement" propõe uma reflexão sobre como essas perspectivas podem enriquecer a prática osteopática e fortalecer o diálogo entre saberes tradicionais e a ciência moderna. 1. O Que São Epistemologias Indígenas e Como Se Relacionam com a Osteopatia? Epistemologias indígenas são sistemas de conhecimento enraizados em tradições culturais e na relação holística com a natureza e o corpo. Na osteopatia, algumas dessas concepções já encontram paralelos com princípios como: ✔  Interconectividade entre corpo, mente e ambiente:  Assim como a osteopatia enfatiza a influência global dos sistemas corporais, epistemologia...

A dor que ninguém explica... e a mudança que precisamos fazer.

  "A pior dor é a dor inexplicável." Essa frase, que dá título ao artigo recente de Mintken et al (2025), diz mais do que parece à primeira vista. Ela não fala apenas da dor em si — fala do vazio que se forma quando um paciente busca ajuda, mas sai da consulta com uma resposta que não responde. Quando os exames não mostram nada "grave", mas a dor continua ali, diária, real, incapacitante... ou quando se trata o que está no exame e também não se consegue mudar o quadro; o que sobra para o paciente? Muitas vezes, sobra o silêncio. Sobra a dúvida. Sobra o medo. E o medo pode aumentar a dor.   O modelo patoanatômico falhou em oferecer sentido Durante décadas, ensinamos que dor vem de estrutura. Que o problema está no disco, no osso, na cartilagem. Mas hoje a ciência nos mostra que a relação entre estrutura e sintoma é fraca, inconsistente, e frequentemente enganosa. Muitas hérnias, artroses e “degenerações” aparecem em pessoas que não têm nenhuma dor. E muita...

Tendinopatia Glútea: Desmistificando Mitos e Aplicando Evidências na Prática Clínica

 A tendinopatia glútea é uma das principais causas de dor lateral no quadril, afetando tanto atletas quanto a população geral. No entanto, muitos conceitos sobre essa condição ainda são baseados em mitos e abordagens desatualizadas. O estudo "Gluteal Tendinopathy Masterclass: Refuting the Myths and Engaging with the Evidence" revisa criticamente o tema, trazendo um olhar baseado em evidências para o diagnóstico e tratamento dessa condição. 1. Mitos Comuns Sobre a Tendinopatia Glútea A revisão identifica e refuta diversas crenças equivocadas que ainda persistem na prática clínica: ✔  Mito: A dor na lateral do quadril é sempre bursite trocantérica. ✔  Fato:  A bursite é frequentemente um achado secundário à tendinopatia glútea, sendo a disfunção do tendão o fator primário da dor. ✔  Mito: A tendinopatia glútea é causada apenas por sobrecarga mecânica. ✔  Fato:  Além da sobrecarga, fatores como envelhecimento, inflamação de baixo grau e sensibilização cen...

Como lidar com a dor na prescrição de exercícios?

 O uso de exercícios no manejo da dor musculoesquelética crônica é amplamente recomendado, mas uma questão crucial ainda gera debates:  os exercícios devem ser dolorosos para serem eficazes?  O estudo "Should Exercises Be Painful in the Management of Chronic Musculoskeletal Pain? A Systematic Review and Meta-Analysis" analisou evidências sobre o impacto de exercícios dolorosos versus indolores nos desfechos clínicos. 1. Exercício e Dor: O Que a Ciência Diz? A revisão sistemática e meta-análise comparou diferentes protocolos de exercícios e sua relação com a dor durante a execução. Os principais achados incluem: ✔  Exercícios que causam um nível leve a moderado de dor não são prejudiciais e podem até estar associados a melhores resultados a longo prazo. ✔  O desconforto percebido durante o exercício não compromete a adesão ao tratamento, desde que os pacientes sejam educados sobre sua segurança. ✔  Programas progressivos de exercícios, mesmo quando envolvem ...

Controle Motor: Um Modelo Conceitual para a Reabilitação

 O controle motor é um conceito essencial na reabilitação de pacientes com disfunções neuromusculares e musculoesqueléticas. O estudo "Motor Control: A Conceptual Framework for Rehabilitation" de Mindy F. Levin e Daniele Piscitelli propõe um modelo abrangente para entender como o controle motor pode ser otimizado na prática clínica. 1. O Que é Controle Motor e Por Que é Importante na Reabilitação? O controle motor refere-se à capacidade do sistema nervoso de planejar, coordenar e executar movimentos eficientes e adaptáveis. Segundo os autores, a reabilitação eficaz deve levar em consideração os seguintes aspectos: ✔  Integração sensório-motora:  A interação entre feedback sensorial e ajustes motores é fundamental para o aprendizado e recuperação do movimento. ✔  Plasticidade neural:  O sistema nervoso tem capacidade de adaptação, permitindo a reabilitação funcional mesmo em condições de lesão neurológica ou musculoesquelética. ✔  Controle postural e estabil...

Uma Revisão Crítica da Teoria dos Pontos Gatilho e Padrões de Dor Muscular

 A teoria dos pontos gatilho miofasciais (PGMs) tem sido amplamente utilizada no diagnóstico e tratamento da dor musculoesquelética. No entanto, ainda existem controvérsias sobre seus mecanismos subjacentes, validade diagnóstica e eficácia das abordagens terapêuticas. O estudo "Advancing Musculoskeletal Diagnosis and Therapy: A Comprehensive Review of Trigger Point Theory and Muscle Pain Patterns" revisa criticamente os fundamentos da teoria dos PGMs e discute como podemos aprimorar o manejo da dor muscular. 1. A Teoria dos Pontos Gatilho: O Que Sabemos? Os PGMs são definidos como regiões hiperirritáveis dentro de bandas musculares tensionadas, frequentemente associadas à dor referida. Contudo, a revisão aponta desafios na compreensão dessa teoria, incluindo: ✔  Falta de evidências diretas para a existência anatômica dos PGMs como uma estrutura distinta. ✔  Baixa confiabilidade interavaliadores na palpação dos PGMs. ✔  Possível relação entre PGMs e sensibilização per...

Síndromes de Dor Miofascial: Controvérsias e Caminhos para um Diagnóstico e Tratamento Mais Preciso

 A dor miofascial é uma das condições musculoesqueléticas mais frequentes, mas ainda envolve inúmeras controvérsias em relação ao seu diagnóstico e tratamento. O estudo "Myofascial Pain Syndromes: Controversies and Suggestions for Improving Diagnosis and Treatment" revisa criticamente as abordagens atuais e propõe maneiras de aprimorar a precisão diagnóstica e a eficácia terapêutica. 1. Principais Controvérsias na Dor Miofascial A literatura aponta diversos desafios na compreensão da dor miofascial, incluindo: ✔  Falta de critérios diagnósticos padronizados:  Muitos estudos utilizam definições diferentes para pontos gatilho miofasciais (PGMs), dificultando comparações. ✔  Discussões sobre a fisiopatologia:  Ainda há debates sobre se os PGMs são estruturas anatômicas bem definidas ou se representam uma sensibilização periférica e central. ✔  Baixa confiabilidade interavaliadores:  A palpação dos PGMs tem variabilidade significativa entre profissionais, ...