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Mostrando postagens de 2025

Manipulações Cervicais: Benefícios, Riscos e o Papel da Prática Baseada em Evidências

 As manipulações cervicais são amplamente utilizadas por fisioterapeutas, quiropraxistas e osteopatas no tratamento de condições musculoesqueléticas da coluna cervical, como cefaleias cervicogênicas, dor cervical inespecífica e restrições de mobilidade. Mas afinal, qual é o saldo entre benefício e risco? O que diz a literatura científica? E como devemos posicionar essa técnica na prática clínica? Benefícios Evidenciados Estudos clínicos e revisões sistemáticas apontam para benefícios relevantes: Redução da dor e melhora da função  em casos de dor cervical aguda e subaguda. Melhora na amplitude de movimento  da coluna cervical. Efeito positivo sobre cefaleias cervicogênicas , especialmente quando associadas a restrição articular. Impactos neurofisiológicos positivos  imediatos, como modulação da dor, alteração de limiares de dor à pressão e relaxamento muscular. Exemplos de evidências: Gross et al. (2015) demonstraram, em uma revisão Cochrane, que manipulações cervica...

O Últimato Sobre a Sacroilíaca: Evidência, Diagnóstico e o Papel do Fisioterapeuta

 A articulação sacroilíaca (ASI) é uma velha conhecida dos profissionais que lidam com dor lombopélvica. Já foi rotulada como a origem de todos os males, depois descartada como irrelevante, e agora… retorna como um desafio clínico que exige precisão, conhecimento e uma boa dose de senso crítico. Neste ultimato, vamos reunir os principais pontos discutidos no blog  Osteopatia Científica  sobre a ASI — do diagnóstico à abordagem terapêutica — com base em evidências atuais e sugestões clínicas aplicáveis à prática. 1. Diagnóstico: o mito da palpação Testes de mobilidade como Gillet, inclinação anterior e similares são amplamente usados. Mas a revisão sistemática de Szadek et al. (2009) nos dá o primeiro choque de realidade:  baixa confiabilidade interavaliadores e pouca validade clínica . Ou seja,  palpar mobilidade sacroilíaca continua sendo mais arte do que ciência . Dica clínica:  Use testes provocativos validados (cluster de Laslett, por exemplo) e combine...

Testes de Mobilidade da Sacroilíaca: Precisão ou Ilusão Clínica?

 A articulação sacroilíaca (ASI) é frequentemente culpada por dores lombares e pélvicas. Mas será que conseguimos realmente avaliá-la com precisão na prática clínica? A revisão sistemática publicada por Szadek et al. lança luz sobre um tema controverso:  a confiabilidade e validade dos testes clínicos de mobilidade da ASI . O Que o Estudo Investigou? O objetivo do artigo foi analisar as  propriedades clinimétricas  dos testes comumente utilizados para avaliar a mobilidade da sacroilíaca. Entre eles: Teste de Gillet (ou teste de marcha de Stork) Teste de Flexão em Pé - TFP Teste de mobilidade posterior Teste de flexão ativa da perna reta A revisão reuniu estudos que avaliaram  confiabilidade intra e interavaliadores ,  validade  (em comparação com exames de imagem ou injeções diagnósticas) e  acurácia diagnóstica . E o Resultado? Prepare-se: a maioria dos testes analisados  não apresentou propriedades clinimétricas aceitáveis . Eis os principa...

Manipulações Vertebrais e Sistema Nervoso: Efeitos Imediatos Sob a Lupa Científica

 Por muito tempo, os efeitos da terapia manual vertebral foram atribuídos quase exclusivamente a ajustes biomecânicos. Mas e se os principais efeitos fossem, na verdade, neurológicos? A revisão sistemática liderada por Martínez-Segura et al. (2021) oferece uma nova lente sobre o impacto imediato da terapia manual no sistema nervoso. O Que o Estudo Investigou? A revisão avaliou 21 estudos clínicos que exploraram os  efeitos de curto prazo da terapia manual vertebral (SMT) sobre marcadores neurológicos em pacientes com dor musculoesquelética. O objetivo: entender como o sistema nervoso — central e periférico — responde à manipulação. Principais Achados Os autores encontraram  alterações significativas em diversos níveis neurofisiológicos , como: Aumento no limiar de dor por pressão (PPT)  — ou seja, menor sensibilidade à dor após a SMT. Ativação das vias inibitórias descendentes da dor , especialmente o sistema opioide endógeno. Modulação da excitabilidade cortical , s...

Dor Facetária Cervical: Entre a Degeneração e o Trauma em Chicote

 A dor cervical é uma das principais causas de incapacidade funcional no mundo moderno, e dentro desse universo clínico, a dor facetária cervical representa uma entidade frequentemente negligenciada. O estudo "Cervical facet pain: Degenerative alterations and whiplash-associated disorder" oferece uma análise aprofundada da dor originada nas articulações zigapofisárias cervicais, considerando tanto as alterações degenerativas quanto os mecanismos traumáticos associados ao whiplash. Entendendo a Dor Facetária Cervical As articulações facetárias cervicais são estruturas sinoviais que contribuem para a mobilidade e estabilidade da coluna cervical. Alterações degenerativas nessas articulações, como osteófitos e esclerose subcondral, estão frequentemente associadas à dor crônica. A prevalência da dor facetária em indivíduos com cervicalgia pode chegar a 60%, especialmente em faixas etárias mais avançadas. Trauma em Chicote (Whiplash) e Facetas O whiplash-associated disorder (WAD), ...

Exercícios Físicos e Doenças Crônicas: Evidências, Prevenção e Alívio da Dor

 A ideia de que o movimento é um remédio poderoso não é nova, mas nunca foi tão bem embasada quanto agora. Várias revisões sistemáticas e estudos clínicos vêm mostrando que os exercícios físicos não só previnem doenças crônicas como também são aliados no tratamento de dores musculoesqueléticas, incluindo a famigerada dor lombar e a osteoartrite. O Exercício Como Pilar de Saúde Booth et al. (2012) abordam o impacto negativo do sedentarismo com um argumento direto: a falta de exercício é uma das principais causas de doenças crônicas modernas. Do diabetes tipo 2 à hipertensão, da depressão à síndrome metabólica, o corpo responde à inatividade com adoecimento progressivo. No mesmo sentido, O'Keefe e Lavie (2013) reforçam que o exercício terapêutico regular atua como forma de prevenção e também de controle das doenças crônicas, reduzindo riscos cardiovasculares e promovendo melhora funcional. Dor Lombar: Melhor Prevenir do que Tratar No campo da fisioterapia musculoesquelética, a dor lo...

O Tratamento Osteopático é Superior ao Placebo para Dor Cervical e Lombar? O Que Revela a Meta-Análise

 A eficácia da Terapia Manipulativa Osteopática (OMT) tem sido amplamente debatida na comunidade científica, especialmente em comparação com intervenções placebo ou simuladas (sham). Em tempos de medicina baseada em evidências, surge a pergunta inevitável: será que a OMT é realmente superior ao placebo no manejo da dor cervical e lombar? A meta-análise "Is Osteopathic Manipulative Treatment Clinically Superior to Sham or Placebo for Patients with Neck or Low-Back Pain?" busca responder essa questão com base em dados robustos da literatura. 1. Contextualização da Dor Cervical e Lombar A dor cervical e lombar são algumas das condições musculoesqueléticas mais prevalentes no mundo. Ambas impactam negativamente a qualidade de vida, o desempenho funcional e geram altos custos para os sistemas de saúde. Compreender o papel das terapias manuais — como a OMT — nesse contexto é fundamental para direcionar intervenções eficazes e baseadas em ciência. 2. OMT Como Intervenção Manual Espe...

Diagnóstico da Dor Lombar Discogênica com Discografia Negativa: O Que a Ciência Está Revelando?

 A dor lombar crônica é uma das principais causas de incapacidade em todo o mundo. Em muitos casos, a origem da dor é atribuída ao disco intervertebral, uma condição conhecida como dor lombar discogênica. No entanto, o diagnóstico dessa condição é desafiador, especialmente quando exames como a discografia — considerados padrão-ouro por décadas — apresentam resultados negativos. O estudo “Diagnosis of discogenic low back pain in patients with probable symptoms but negative discography” questiona os limites desse método diagnóstico e propõe novas reflexões sobre o reconhecimento clínico da dor discogênica. 1. Contextualização da Dor Lombar Discogênica A dor discogênica tem origem na degeneração ou inflamação do disco intervertebral, frequentemente sem radiculopatia associada. Os sintomas clássicos incluem: Dor axial, centralizada na região lombar inferior. Piora com posição sentada prolongada e flexão anterior. Ausência de sinais neurológicos evidentes. O diagnóstico costuma ser clín...

Efeitos da Osteopatia no Refluxo Gastroesofágico: O Que Diz a Evidência Científica?

 O refluxo gastroesofágico (DRGE) é uma condição comum que afeta uma parcela significativa da população, caracterizada pelo retorno do ácido gástrico para o esôfago, causando sintomas como azia, regurgitação e desconforto torácico. Além dos tratamentos farmacológicos, abordagens complementares têm sido exploradas, entre elas a osteopatia. Mas qual é o impacto real dessa abordagem no manejo do refluxo? Este texto analisa as evidências mais recentes sobre o papel da osteopatia no tratamento da DRGE. 1. Contextualização do Refluxo Gastroesofágico (DRGE) A DRGE é multifatorial, podendo ser causada por disfunção do esfíncter esofágico inferior, aumento da pressão intra-abdominal, hábitos alimentares inadequados e estresse. Além dos sintomas clássicos, pode impactar o sono, a qualidade de vida e estar associada a complicações como esofagite ou estenoses esofágicas. O tratamento clássico envolve o uso de inibidores de bomba de prôtons (IBPs), mas muitos pacientes relatam persistência de s...

Osteopatia Visceral: O Que Mostram as Revisões Sistemáticas Mais Relevantes?

 A osteopatia visceral é frequentemente promovida como uma abordagem eficaz para tratar disfunções digestivas, ginecológicas e viscerossomáticas. Mas o que dizem as revisões sistemáticas da literatura? Qual é o real impacto dessa abordagem sob o olhar da prática baseada em evidências? Neste artigo, exploramos as três principais revisões sistemáticas que avaliaram a eficácia da osteopatia visceral, com foco em mecanismos, resultados clínicos e qualidade metodológica dos estudos. 1. Guillaud et al. (2018) — Revisão Geral da Osteopatia Visceral Esta é a revisão sistemática mais abrangente sobre osteopatia visceral até hoje. Os autores analisaram 17 estudos clínicos e buscaram compreender tanto os efeitos quanto os possíveis mecanismos de ação da técnica. ✔  Principais achados:  Resultados promissores para dor lombar, constipação, dismenorreia e SII (síndrome do intestino irritável), mas com baixa qualidade metodológica em grande parte dos estudos. ✔  Limitação:  Po...

Cicatriz de Cesárea Causa Dor no Quadril?

Uma hipótese com apelo clínico, mas ainda sem comprovação científica robusta Introdução Na prática clínica, é cada vez mais comum encontrar terapeutas manuais e profissionais da área da saúde que relatam melhora de dores no quadril, pelve ou lombar após intervenções em cicatrizes abdominais — especialmente cicatrizes de cesárea. Essa observação gera uma pergunta importante: há base anatômica, fisiológica ou clínica suficiente para afirmar que uma cicatriz de cesárea pode gerar dor no quadril por meio de aderência fascial? Neste artigo, revisamos as evidências a favor e contra essa hipótese, com o objetivo de esclarecer o que já é plausível, o que ainda é especulativo e o que precisa ser melhor investigado.  Argumentos a Favor 1. Continuidade anatômica da fáscia A anatomia fascial demonstra conexões claras entre as fáscias abdominais (Scarpa, transversalis), o ligamento inguinal, a fáscia lata da coxa e as estruturas suspensórias da pelve. Isso foi descrito por autores como Myers (1...

Osteopata Cientista ou Osteopata Don Quixote?

  O Osteopata Don Quixote: o cavaleiro das disfunções imaginárias         Em tempos modernos, ainda cavalga pelos consultórios o Osteopata Don Quixote , herdeiro simbólico do velho cavaleiro espanhol que guerreava contra moinhos de vento acreditando combater monstros temíveis.           Armado com antigas doutrinas, livros desgastados e uma fé inabalável nas "verdades" do século XIX, o Osteopata Don Quixote interpreta cada dor, cada desconforto, cada anomalia anatômica como uma ameaça oculta, como uma "disfunção" imperceptível aos olhos dos meros mortais. Seus olhos, treinados pelo possibilismo anatômico, veem rotações de ossos invisíveis, microlesões etéreas, fluidos primários estagnados e órgãos “desalinhados” clamando por libertação.           Não importam as evidências atuais; ele recusa as lentes da ciência contemporânea. Suas ferramentas são palpação subjetiva, teorias vitalistas e diagnóstico...

A Crise e a Evolução da Osteopatia: uma análise crítica a partir da literatura recente

          A osteopatia, enquanto profissão de saúde, enfrenta hoje uma crise identitária e epistemológica profunda, como revelam diversas análises contemporâneas.           Thomson e Martini (2024) apontam que parte significativa do ensino e da prática osteopática ainda é permeada por conceitos pseudocientíficos, o que compromete sua credibilidade e impede sua integração plena ao modelo de práticas baseadas em evidências. Essa crítica encontra eco em Thomson e MacMillan (2023), que ampliam a análise ao diagnosticar cinco fragilidades estruturais: uma base teórica frágil, a permanência de um biomédicalismo reducionista, o monointervencionismo manual, práticas centradas no profissional, e o uso de explicações implausíveis para fenômenos clínicos.           Essa visão crítica é aprofundada por L’Hermite (2024), que propõe compreender a identidade osteopática como uma tensão contínua entre o idem —...

Testes Provocativos para Dor no Ombro: Ainda Devemos Confiar Neles?

 A avaliação clínica da dor no ombro muitas vezes inclui uma série de testes provocativos, como Neer, Hawkins-Kennedy, Jobe, Apprehension, Speed, entre outros. Esses testes são ensinados amplamente na formação em fisioterapia e medicina esportiva, mas qual é o seu real valor diagnóstico? O estudo "Diagnostic Value of Frequently Implemented Provocative Tests in the Assessment of Shoulder Pain – A Glimpse of Current Practice" analisa criticamente as evidências que sustentam o uso desses testes no contexto clínico atual. 1. Qual é o Valor Diagnóstico Real dos Testes Provocativos? O estudo revisa a literatura sobre sensibilidade, especificidade e valor preditivo de diversos testes comumente utilizados para condições como impacto subacromial, lesão de manguito rotador e instabilidade glenoumeral. Entre os principais achados: ✔  Sensibilidade geralmente moderada a alta, mas baixa especificidade  em muitos testes, o que leva a falsos positivos. ✔  Testes isolados raramente ...