Dor Não é Só Dor: O Peso dos Fatores Psicológicos no Desfecho da Dor
Se você ainda acredita que dor é apenas uma resposta à lesão tecidual, talvez esteja lendo os artigos errados — ou lendo de menos.
A ciência moderna da dor tem deixado cada vez mais claro que fatores como medo, catastrofização, expectativa e crenças sobre o corpo influenciam diretamente o desfecho terapêutico. Mas o artigo de revisão “The Effect of Psychological Factors on Pain Outcomes: Lessons Learned for the Next Generation of Research” aprofunda essa ideia e vai além: mostra como ignorar essas variáveis é um erro metodológico e clínico.
O que esse artigo traz de novo?
O estudo discute décadas de pesquisas sobre dor crônica e mostra que muitos ensaios clínicos falham não porque as intervenções não funcionam, mas porque subestimam o papel de fatores como:
Catastrofização da dor
Crenças disfuncionais sobre movimento
Baixa autoeficácia
Medo e evitação
Depressão e ansiedade associadas à dor
Essas variáveis não só modulam a experiência dolorosa, mas também afetam a aderência ao tratamento, recuperação funcional e percepção de melhora. Ou seja: a mente não apenas sente a dor — ela medeia o caminho da dor à melhora.
E os estudos? Onde estão errando?
O artigo levanta uma crítica relevante: muitos estudos em reabilitação e terapia manual falham metodologicamente por não controlarem fatores psicossociais como variáveis de confusão. Isso gera resultados enviesados e conclusões frágeis.
Além disso, sugere que futuros ensaios incluam mediadores psicológicos como variáveis primárias, não apenas secundárias ou exploratórias. Afinal, como avaliar o efeito de uma intervenção física se o paciente tem crenças de que vai “ficar travado pra sempre”?
O que isso muda na prática clínica?
Mais do que nunca, o fisioterapeuta e o osteopata precisam desenvolver competências de escuta ativa, comunicação empática e educação em dor. Se não tratarmos a dor que o paciente tem sobre a dor, talvez nenhuma técnica vá funcionar como deveria.
Não se trata de substituir a intervenção manual ou o exercício terapêutico por conversa fiada. Trata-se de entender que sem modular as dimensões cognitivas e emocionais da dor, a reabilitação corre o risco de fracassar — mesmo que a técnica esteja perfeita.
Conclusão
A dor não está só no tecido. Está na história do paciente, na forma como ele interpreta seus sintomas, nos medos que carrega e nas experiências que teve com profissionais anteriores.
Reconhecer, avaliar e intervir sobre os fatores psicológicos é mais do que um modismo biopsicossocial: é uma exigência ética e científica da prática baseada em evidências.
Referência
Edwards RR, Dworkin RH, Turk DC. The Effect of Psychological Factors on Pain Outcomes: Lessons Learned for the Next Generation of Research. J Pain Res. 2023;16:2593–2604.
Prof Leonardo Nascimento, Ft Msc DO PhD
Fisioterapeuta
Osteopata
Pós‑graduado em Fisioterapia Ortopédica e Desportiva pela UNICID/SP
Especialista em Terapia Manual e Postural pela Cesumar/PR
Especialista em Osteopatia pela Universidade Castelo Branco/RJ
Osteopata Certificado pela Escola de Madrid
Professor da Escola de Madrid Internacional
Mestre em Ciências da Reabilitação – USP
Diplomado em Osteopatia pela SEFO (Scientific European Federation Osteopaths)
Doutor em Neurociências e Comportamento - FMUSP
Estudioso da área de palpação e sensibilidade manual tátil no Laboratório de Fisioterapia e Comportamento na Universidade de São Paulo – USP
Colaborador do DO‑Touch (American Osteopathic Association)
Coordenador de Grupos de Pesquisa da Escola de Madrid Internacional
Host do Podcast Osteopatia Científica
Revisor de Periódicos de Fisioterapia e Osteopatia
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