TeleReabilitação para Dor Lombar Crônica: Conectando Movimento e Tecnologia

 A dor lombar crônica (DLC) continua sendo uma das principais causas de incapacidade no mundo. E enquanto os consultórios e clínicas lotam com pacientes que repetem a mesma frase — “já tentei de tudo” — surge uma nova proposta: reabilitação baseada em exercício, feita à distância, com apoio da tecnologia. A chamada telereabilitação.

Mas será que funciona mesmo? Ou é mais uma moda passageira, como a cadeira que promete corrigir sua postura sem esforço? Uma scoping review recente mergulhou nesse universo para mapear a efetividade, as ferramentas e os desafios dessa abordagem.

O Que Essa Revisão Investigou?

Os autores buscaram responder uma pergunta direta: qual é o estado atual das evidências sobre o uso da telereabilitação baseada em exercícios para tratar pacientes com dor lombar crônica?

Para isso, realizaram uma revisão de escopo — uma metodologia útil para mapear o volume e os tipos de evidência disponíveis, especialmente em áreas emergentes ou pouco exploradas.

Metodologia da Revisão

Foram incluídos estudos que:

  • Focaram em intervenções por exercício conduzidas remotamente (por vídeo, aplicativos, plataformas digitais, etc.)

  • Tiveram como alvo adultos com dor lombar crônica

  • Apresentaram resultados clínicos como dor, função, adesão ou satisfação

O corte temporal cobriu estudos publicados até 2021, utilizando bases como PubMed, Scopus e Embase.

O Que Foi Encontrado?

  • A maioria dos estudos utilizou videoconsultas síncronas ou programas gravados com feedback assíncrono.

  • As intervenções mais comuns incluíam exercícios de estabilização lombar, alongamentos e atividades funcionais.

  • Resultados positivos foram relatados para redução da dormelhora da função e alta taxa de adesão — em alguns casos, superior à terapia presencial.

  • Pacientes relataram satisfação com a flexibilidade do modelo remoto, especialmente em regiões de difícil acesso ou com limitações de mobilidade.

Críticas e Limitações

Apesar dos resultados promissores, a revisão levanta algumas bandeiras vermelhas importantes:

  • A maioria dos estudos tinha amostras pequenas e curto tempo de acompanhamento.

  • Poucas pesquisas avaliaram efeitos de longo prazo, custo-efetividade ou desfechos relacionados à saúde mental.

  • A heterogeneidade das plataformas, protocolos e critérios de diagnóstico torna difícil comparar diretamente os resultados.

Ou seja: ainda estamos longe de um protocolo padrão ouro para telereabilitação da dor lombar. A empolgação com a tecnologia deve vir acompanhada de critérios clínicos claros, supervisão adequada e atenção às limitações do paciente.

E na Prática Clínica?

Para o fisioterapeuta que deseja incorporar telereabilitação na rotina, o recado da revisão é: sim, é viável — e pode funcionar muito bem. Mas é preciso planejamento, educação do paciente e uso consciente das ferramentas digitais. Telereabilitação não é sinônimo de “envio de vídeos por WhatsApp”.

Além disso, não substitui completamente a avaliação clínica presencial inicial, especialmente em casos de bandeiras vermelhas ou pacientes com múltiplas comorbidades.

Conclusão

A telereabilitação baseada em exercício é uma realidade promissora para o tratamento da dor lombar crônica, com evidências emergentes de sua eficácia e aceitação. Ainda há lacunas, especialmente metodológicas, mas o caminho está aberto para uma prática mais acessível, flexível e centrada no paciente — desde que sem perder o rigor clínico.

Prof Leonardo Nascimento, Ft Msc DO PhD
Fisioterapeuta
Pós-graduado em Fisioterapia Ortopédica e Desportiva pela UNICID/SP
Especialista em Terapia Manual e Postural pela Cesumar/PR
Especialista em Osteopatia pela Universidade Castelo Branco/RJ
Osteopata Certificado pela Escola de Madrid
Professor da Escola de Madrid Internacional
Mestre em Ciências – USP
Diplomado em Osteopatia pela SEFO (Scientific European Federation Osteopaths)
Doutor em Neurociências e Comportamento - FMUSP
É um estudioso da área de palpação e sensibilidade manual tátil no Laboratório de Fisioterapia e Comportamento na Universidade de São Paulo – USP
Colaborador do DO‑Touch - AOA (American Osteopathic Association)
Coordenador de Grupos de Pesquisas da Escola de Madrid Internacional
Host do Podcast Osteopatia Científica
Revisor de Periódicos de Fisioterapia e Osteopatia

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