Dor Inguinal em Atletas: O Que Realmente Causa? A Ciência Responde
Se você é fisioterapeuta, educador físico ou atua com esportes, com certeza já atendeu aquele atleta — amador ou profissional — com dor na região inguinal. Essa dor enigmática, muitas vezes de difícil diagnóstico, é mais comum do que se imagina e pode comprometer gravemente o desempenho esportivo.
Mas afinal… o que realmente causa dor inguinal em atletas? Seriam fatores biomecânicos? Alterações musculares? Ou simplesmente excesso de treino? Um estudo recente revisou as evidências para esclarecer essa bagunça clínica.
O Estudo
A revisão sistemática publicada por Mosler et al. (2023) buscou identificar fatores de risco associados à dor inguinal em atletas. Os pesquisadores analisaram 18 estudos de qualidade metodológica variada, envolvendo esportistas de diferentes modalidades, como futebol, hóquei, atletismo e rugby.
Principais Resultados
Entre os fatores associados à dor inguinal, destacaram-se:
Histórico prévio de dor inguinal: O maior preditor isolado. Se já doeu antes, há maior chance de doer de novo. (Ponto para a prevenção!)
Fraqueza de adutores: Em especial, a força excêntrica reduzida dos adutores foi associada a maior risco.
Desequilíbrio entre adutores e abdutores
Excesso de carga de treino mal distribuída, principalmente em esportes de alta demanda rotacional como o futebol.
Alterações biomecânicas na pelve e quadril (com menor evidência).
Surpreendentemente, muitos fatores comumente culpados em abordagens mais empíricas — como assimetrias posturais ou desvios estruturais — não apresentaram associação consistente com dor inguinal. Um recado direto para quem ainda acredita que toda dor vem de um “desalinhamento”.
Qualidade da Evidência
Um ponto de atenção: a qualidade metodológica geral dos estudos incluídos foi baixa a moderada. Muitos deles apresentaram risco de viés elevado, uso de instrumentos mal validados ou definições pouco precisas de dor inguinal.
Ou seja: temos dados, mas ainda carecemos de ensaios clínicos prospectivos e de alta qualidade metodológica para tirar conclusões mais robustas.
Dicas Clínicas
✅ Avalie a força dos adutores, principalmente em regime excêntrico.
✅ Investigue histórico prévio de dor na região.
✅ Avalie o controle de carga no calendário de treinos — e não só a biomecânica do movimento.
❌ Cuidado com interpretações exageradas de exames de imagem — eles pouco ajudam no prognóstico.
Conclusão
A dor inguinal em atletas é multifatorial, mas há um consenso emergente: histórico prévio e força excêntrica dos adutores são os fatores de risco mais relevantes. Em vez de buscar desvios estruturais invisíveis, olhe para o que o atleta faz, treinou e sentiu. A evidência aponta nessa direção.
Referência
Mosler AB, Crossley KM, Thorborg K, et al. Risk Factors Associated with Groin Pain in Athletes: A Systematic Review. Sports Med. 2023;53(5):867-884. doi:10.1007/s40279-022-01785-1
Prof Leonardo Nascimento, Ft Msc DO PhD
Fisioterapeuta
Pós-graduado em Fisioterapia Ortopédica e Desportiva pela UNICID/SP
Especialista em Terapia Manual e Postural pela Cesumar/PR
Especialista em Osteopatia pela Universidade Castelo Branco/RJ
Osteopata Certificado pela Escola de Madrid
Professor da Escola de Madrid Internacional
Mestre em Ciências – USP
Diplomado em Osteopatia pela SEFO (Scientific European Federation Osteopaths)
Doutor em Neurociências e Comportamento - FMUSP
É um estudioso da área de palpação e sensibilidade manual tátil no Laboratório de Fisioterapia e Comportamento na Universidade de São Paulo – USP
Colaborador do DO-Touch - AOA (American Osteopathic Association)
Coordenador de Grupos de Pesquisas da Escola de Madrid Internacional
Host do Podcast Osteopatia Científica
Revisor de Periódicos de Fisioterapia e Osteopatia
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