Manipulação Vertebral: Menos Dor, Mesmo Equilíbrio

 Se você ainda acha que uma única sessão de manipulação vertebral cura tudo — da dor lombar crônica à má postura, passando por “realinhamento de chakras” — este texto é para você. Um estudo recente colocou à prova essa narrativa milagrosa, com uma abordagem honesta e baseada em evidências.

🔬 O Estudo: O que Foi Feito?

A pesquisa, publicada em um ensaio clínico randomizado, controlado por placebo, investigou os efeitos imediatos de uma única sessão de manipulação vertebral (SMT) sobre dois desfechos importantes em pessoas com dor lombar crônica:

  1. Sensibilidade local à dor

  2. Estabilidade postural

Foram comparadas três abordagens:

  • SMT real (alta velocidade, baixa amplitude)

  • Intervenção simulada (placebo manual)

  • Controle sem intervenção

📉 Resultados: Alívio Parcial, sem Milagres

O resultado principal? Houve redução significativa da sensibilidade à dor local após a manipulação real — um achado que confirma o papel de mecanismos neurofisiológicos imediatos, como modulação descendente da dor e gating espinal.

Mas — e sempre tem um "mas" — não houve qualquer melhora na estabilidade postural medida logo após a intervenção.

Ou seja: a manipulação não mudou o controle motor em curto prazo, pelo menos não em parâmetros objetivos.

📚 Discussão: Entre o Alívio e a Realidade

A conclusão é direta: a manipulação vertebral não é uma bala mágica. Reduzir a sensibilidade dolorosa? Sim. Mudar padrão de controle motor ou estabilidade postural em uma única sessão? Não.

Isso desmonta discursos simplistas que associam manipulação a "corrigir desalinhamentos" ou "realinhar a coluna para restaurar o equilíbrio corporal".

🚨 Um ponto crítico:

Os efeitos positivos sobre dor podem ocorrer por expectativa, interação terapeuta-paciente e modulação central. Já a ausência de efeito sobre controle postural indica que mecanismos biomecânicos locais não são imediatamente modificados — um soco no estômago de quem vende a técnica como “reposicionamento estrutural”.

💡 Implicações Clínicas

🔹 Use a manipulação como parte do arsenal, não como única solução
🔹 Explique ao paciente os limites e efeitos reais da técnica
🔹 Não venda manipulação como "ajuste postural corretivo"
🔹 Integre com exercício terapêutico ativo e educação em dor

🧠 Conclusão

Sim, a manipulação pode ajudar a aliviar a dor — mas não muda imediatamente o controle postural. Este estudo reforça que abordagens baseadas em evidência devem ir além do toque mágico. O paciente precisa de estratégia, consistência e autonomia — não apenas um “estalo”.

Referência

Stamos-Papastamos E, Zarra E, Mavrommatis CI, et al. One spinal manipulation session reduces local pain sensitivity but does not affect postural stability in individuals with chronic low back pain: a randomised, placebo-controlled trial. BMJ Open Sport & Exercise Medicine. 2023;9(3):e001608. PMID: 37694323

Prof Leonardo Nascimento, Ft Msc DO PhD
Fisioterapeuta
Osteopata
Pós‑graduado em Fisioterapia Ortopédica e Desportiva pela UNICID/SP
Especialista em Terapia Manual e Postural pela Cesumar/PR
Especialista em Osteopatia pela Universidade Castelo Branco/RJ
Osteopata Certificado pela Escola de Madrid
Professor da Escola de Madrid Internacional
Mestre em Ciências da Reabilitação – USP
Diplomado em Osteopatia pela SEFO (Scientific European Federation Osteopaths)
Doutor em Neurociências e Comportamento - FMUSP
Estudioso da área de palpação e sensibilidade manual tátil no Laboratório de Fisioterapia e Comportamento na Universidade de São Paulo – USP
Colaborador do DO‑Touch (American Osteopathic Association)
Coordenador de Grupos de Pesquisa da Escola de Madrid Internacional
Host do Podcast Osteopatia Científica
Revisor de Periódicos de Fisioterapia e Osteopatia

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