Respirar para Sentir Menos Dor? O Diafragma em Foco no Pós-Operatório de Histerectomia

 Pode parecer simples demais, mas respirar bem — com o diafragma — pode ser uma intervenção terapêutica com impacto clínico real. Um estudo clínico randomizado recente avaliou os efeitos da respiração diafragmática na dor referida após histerectomia laparoscópica total. E os resultados surpreendem.

Contexto: Cirurgia e Dor Referida

A histerectomia laparoscópica é uma intervenção minimamente invasiva, mas frequentemente acompanhada de dor referida no ombro, muitas vezes relacionada à irritação do diafragma pelo gás insuflado na cavidade abdominal. Esse tipo de dor é uma velha conhecida nos centros cirúrgicos, mas ainda pouco abordada de forma eficaz.

O Estudo: Método e Intervenção

O estudo incluiu mulheres submetidas à cirurgia e randomizadas em dois grupos:

  • Grupo Controle: cuidados pós-operatórios padrão;

  • Grupo Intervenção: recebeu orientação e prática de respiração diafragmática profunda a cada duas horas, por três dias.

Os desfechos principais foram intensidade da dor referida e uso de analgésicos no pós-operatório.

Resultados: Respirar Faz Diferença

As pacientes que praticaram respiração diafragmática apresentaram redução significativa na dor referida no ombro e no uso de analgésicos opioides em comparação ao grupo controle. A diferença foi clinicamente relevante já nas primeiras 24 horas.

Mais impressionante: os efeitos não dependiam de nenhuma tecnologia cara, apenas de educação, adesão e acompanhamento.

Crítica Metodológica

Apesar do mérito do estudo — randomizado, com grupo controle bem definido e medidas padronizadas de desfecho — é importante destacar algumas limitações:

  • Curto período de seguimento (3 dias), o que limita inferências sobre benefícios sustentados.

  • Falta de cego para a intervenção, o que é difícil em estudos de técnicas respiratórias, mas ainda assim pode influenciar os resultados.

  • A dor referida foi avaliada por autorrelato, sem padronização de testes físicos para confirmar se havia real envolvimento diafragmático somatossensorial.

Ainda assim, o achado é promissor e se soma ao corpo crescente de evidências sobre o papel da função diafragmática na dor, inclusive em contextos fora do respiratório clássico.

O Que Isso Tem a Ver com Osteopatia?

Tudo. O diafragma é uma estrutura central no raciocínio osteopático. A disfunção diafragmática já foi associada a quadros de dor lombar, refluxo, alterações viscerossomáticas e, como neste caso, dor referida no ombro após cirurgia abdominal.

A boa notícia? Não precisamos esperar cirurgias para trabalhar com respiração. Incorporar o treinamento diafragmático na prática clínica pode trazer benefícios preventivos, moduladores de dor e de recuperação funcional. E sim, com respaldo científico.

Referência:

  • Pourmomeny AA, et al. Diaphragmatic breathing for referred pain after total laparoscopic hysterectomy: a randomized clinical trial. PubMed ID: 37872630

Prof Leonardo Nascimento, Ft Msc DO PhD
Fisioterapeuta
Pós-graduado em Fisioterapia Ortopédica e Desportiva pela UNICID/SP
Especialista em Terapia Manual e Postural pela Cesumar/PR
Especialista em Osteopatia pela Universidade Castelo Branco/RJ
Osteopata Certificado pela Escola de Madrid
Professor da Escola de Madrid Internacional
Mestre em Ciências – USP
Diplomado em Osteopatia pela SEFO (Scientific European Federation Osteopaths)
Doutor em Neurociências e Comportamento - FMUSP
É um estudioso da área de palpação e sensibilidade manual tátil no Laboratório de Fisioterapia e Comportamento na Universidade de São Paulo – USP
Colaborador do DO-Touch - AOA (American Osteopathic Association)
Coordenador de Grupos de Pesquisas da Escola de Madrid Internacional
Host do Podcast Osteopatia Científica
Revisor de Periódicos de Fisioterapia e Osteopatia

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