Manipulação Vertebral: Entre Tradições, Evidência e o Futuro da Coluna
A manipulação espinhal (SMT – Spinal Manipulation Therapy) é um daqueles temas que dividem opiniões. De um lado, terapeutas que a tratam quase como alquimia; de outro, céticos que a descartam como placebo vitaminado. Mas afinal, o que diz a ciência sobre o passado, presente e futuro dessa intervenção?
Um Passado com Raízes Filosóficas (e Pouca Ciência)
Historicamente, a manipulação vertebral emergiu dentro de sistemas como a quiropraxia e a osteopatia, carregando discursos filosóficos como "subluxações" e "fluxos de energia bloqueados". Esses conceitos, que hoje carecem de sustentação científica, foram úteis na formação de identidade profissional, mas atrapalham a consolidação científica da prática. Ou seja: boas mãos, péssimas hipóteses.
O Presente: SMT sob Lupa Científica
A boa notícia? Nas últimas décadas, a manipulação passou a ser estudada com metodologia mais robusta. Revisões sistemáticas apontam efeitos moderados na redução da dor e melhora funcional, especialmente em lombalgia e cervicalgia. Mas não sem ressalvas: os mecanismos de ação não são puramente biomecânicos. A hipótese dominante hoje é neurofisiológica, com ativação de vias centrais, modulação da dor e efeitos autonômicos.
Além disso, a manipulação não é mágica. Seus efeitos parecem melhores quando associados a exercícios, educação e abordagens biopsicossociais. Em outras palavras: a manipulação sozinha é um gole d’água no incêndio — pode refrescar, mas não resolve.
O Futuro: Ciência ou Show?
O artigo discute os rumos da SMT com um olhar equilibrado: há potencial, mas também há desafios. A sobrevivência da técnica depende de abandonar o discurso místico, melhorar a metodologia dos estudos clínicos e integrar-se a programas multimodais de reabilitação.
A boa prática futura deve ser:
Baseada em evidências, e não em dogmas históricos.
Personalizada ao paciente, respeitando variações clínicas e preferências.
Transparente em riscos, ainda que os eventos adversos graves sejam raros.
Conclusão
A manipulação vertebral tem seu lugar. Mas esse lugar não é no altar do dogma, nem no canto escuro do descrédito absoluto. É na interseção entre conhecimento técnico, evidência atualizada e decisão clínica compartilhada.
Se continuarmos empurrando vértebras com narrativas do século XIX, perderemos espaço para quem empurra a ciência para frente.
Referência:
Bialosky JE, George SZ, Bishop MD. Spinal manipulation/mobilization: past, present, and future. J Electromyogr Kinesiol. 2012 Aug;22(4):769-74. PubMed: 22651953
Prof Leonardo Nascimento, Ft Msc DO PhD
Fisioterapeuta
Pós-graduado em Fisioterapia Ortopédica e Desportiva pela UNICID/SP
Especialista em Terapia Manual e Postural pela Cesumar/PR
Especialista em Osteopatia pela Universidade Castelo Branco/RJ
Osteopata Certificado pela Escola de Madrid
Professor da Escola de Madrid Internacional
Mestre em Ciências – USP
Diplomado em Osteopatia pela SEFO (Scientific European Federation Osteopaths)
Doutor em Neurociências e Comportamento - FMUSP
É um estudioso da área de palpação e sensibilidade manual tátil no Laboratório de Fisioterapia e Comportamento na Universidade de São Paulo – USP
Colaborador do DO-Touch - AOA (American Osteopathic Association)
Coordenador de Grupos de Pesquisas da Escola de Madrid Internacional
Host do Podcast Osteopatia Científica
Revisor de Periódicos de Fisioterapia e Osteopatia
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