Os Gurus da Fisioterapia: Entre o Mito e a Evidência
A fisioterapia e a osteopatia foram, nas últimas décadas, terreno fértil para a ascensão de gurus e métodos milagrosos. Alguns com propostas didáticas ricas, outros com pretensões científicas frágeis, e muitos com promessas terapêuticas que nunca foram realmente testadas. Essa combinação entre carisma, metáforas clínicas e pseudociência elegante gerou um fenômeno perigoso: a substituição da dúvida pela devoção.
É nesse contexto que nasce a websérie “Os Gurus da Fisioterapia e da Osteopatia: Entre o Mito e a Evidência” — um projeto provocador, mas embasado, que revisita os principais métodos consagrados na prática clínica e os confronta com as melhores evidências disponíveis.
Por dentro da websérie: episódios e suas evidências
1. A Era dos Gurus
Reflexão inicial sobre o motivo pelo qual nossa área se tornou suscetível a “mestres” incontestáveis. Discute o impacto da ausência de pensamento crítico na formação profissional.
📖 Sackett DL et al. BMJ, 1996.
2. Philippe Souchard e o RPG
Método de reorganização postural com apelo clínico. A revisão de Furlan et al. (2012) aponta que, embora haja efeitos positivos em dor lombar e cervical, a qualidade metodológica dos estudos é baixa e há falta de reprodutibilidade.
3. Bernard Redondo e as Cadeias Musculares
Modelo didático baseado em encadeamentos anatômicos. Forte apelo clínico e visual, mas nenhuma evidência robusta em bases indexadas. A ausência de validação empírica coloca o método no campo das metáforas úteis, porém não comprovadas.
4. Ricard, Quef e Paillois – a Osteopatia Francesa Segmentar
Grande influência na osteopatia latino-americana. Apesar de técnicas refinadas e formação estruturada, não há ensaios clínicos controlados de impacto. A manipulação segmentar ainda carece de padronização e confiabilidade interexaminador.
📖 Gibbons & Tehan, J Bodyw Mov Ther, 2020.
5. Dominique Lippens e a Nova Osteopatia
Apelo integrativo que mistura neurociência, somatotopia e raciocínio funcional. Porém, continua atrelado à disfunção somática — conceito questionado pela literatura atual.
📖 Cerritelli F et al., Br Med Bull, 2015.
6. Leopold Busquet e as Cadeias Fisiológicas
Integra biomecânica, vísceras e emoção. Encantador, mas com baixíssima plausibilidade biológica. Nenhuma publicação indexada relevante. Popularização baseada em livros e cursos fechados.
7. Método GDS
Sistema de “cadeias comportamentais e morfológicas”. Forte influência na Europa, com abordagem psicocorporal. Não possui evidência empírica sólida, nem protocolos validados. Presença quase nula em bases como PubMed ou PEDro.
8. Microfisioterapia
Exemplo clássico de pseudociência: toques leves para identificar “memórias celulares traumáticas”. Sem plausibilidade biológica, sem ensaios clínicos bem conduzidos, sem revisões sistemáticas favoráveis.
📖 Ernst E. JRSM, 2010.
9. Terapia Craniossacral de Upledger
Fundamentada na percepção de movimentos sutis do crânio. Estudos mostram baixa confiabilidade interavaliadores e ausência de efeito superior ao placebo.
📖 Green et al., BMC Complement Altern Med, 2019.
10. Quiropraxia Vertebral
Componente legítimo em diversos sistemas de saúde, mas com práticas variando do científico ao esotérico. Evidência razoável para dor lombar e cervical; péssima para “subluxações energéticas” ou “reprogramações do corpo”.
📖 Paige NM et al. JAMA, 2017.
Nosso objetivo não é desmerecer a clínica. É qualificar a clínica com ciência. Muitos desses métodos têm valor pedagógico e foram fundamentais na história da fisioterapia manual. Mas quando viram dogmas, nos afastam do raciocínio clínico baseado em evidências — e isso prejudica o paciente, o profissional e a profissão.
Para quem é esta websérie?
Para fisioterapeutas, osteopatas, estudantes e professores que:
Desejam entender os limites entre modelo teórico e evidência;
Cansaram de repetir protocolos sem senso crítico;
Querem se atualizar sem perder o que há de bom na tradição;
Valorizam a ciência sem abrir mão do toque clínico humano.
Acompanhe todos os episódios
Disponíveis no canal Osteopatia Científica no YouTube.
📌 O link para cada vídeo está sempre fixado nos comentários, junto ao link para este texto no blog.
Referência base da série:
Sackett DL, Rosenberg WM, Gray JA, Haynes RB, Richardson WS. Evidence based medicine: what it is and what it isn’t. BMJ. 1996;312(7023):71–2.
Prof. Leonardo Nascimento, Ft MSc DO PhD
Fisioterapeuta
Pós-graduado em Fisioterapia Ortopédica e Desportiva pela UNICID/SP
Especialista em Terapia Manual e Postural pela Cesumar/PR
Especialista em Osteopatia pela Universidade Castelo Branco/RJ
Osteopata Certificado pela Escola de Madrid
Professor da Escola de Madrid Internacional
Mestre em Ciências – USP
Doutor em Neurociências e Comportamento – FMUSP
Pesquisador do CABSIN (Congresso Brasileiro de Saúde Integrativa)
É um estudioso da área de palpação e sensibilidade manual tátil no Laboratório de Fisioterapia e Comportamento – USP
Colaborador do DO-Touch NET – AOA (American Osteopathic Association)
Coordenador de Grupos de Pesquisa da Escola de Madrid Internacional
Host do Podcast Osteopatia Científica
Revisor de Periódicos de Fisioterapia e Osteopatia
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