Testes Provocativos para Ombro: Prática Frequente, Precisão Questionável
Os testes provocativos fazem parte da rotina clínica diária na avaliação de dores no ombro. O paciente relata dor, o terapeuta realiza um conjunto de manobras específicas e, com base em respostas positivas, constrói-se uma hipótese diagnóstica. No entanto, a consistência científica por trás desses testes tem sido amplamente debatida. O estudo revisado por Christiansen et al. (2021) analisa criticamente a validade diagnóstica dos testes mais utilizados para condições comuns do ombro, como lesões do manguito rotador, impacto subacromial e instabilidade glenoumeral.
A análise considerou 26 testes clínicos frequentemente usados, como Neer, Hawkins-Kennedy, Jobe, Lift-Off, Apprehension Test e Speed Test, confrontando-os com achados de imagem ou artroscopia, considerados padrão-ouro. Os resultados são preocupantes. Poucos testes mostraram valores confiáveis de sensibilidade e especificidade. O Jobe Test, por exemplo, apresentou sensibilidade entre 41 e 89% e especificidade entre 50 e 95% para ruptura do supraespinal — uma variação que inviabiliza sua interpretação isolada. Já o Neer e o Hawkins-Kennedy, comumente usados para diagnóstico de impacto, apresentaram baixos valores de especificidade, o que indica grande propensão a falsos positivos.
A revisão critica também a forma como esses testes são ensinados e utilizados, muitas vezes com base em tradições clínicas e não em evidência robusta. Além disso, há pouca padronização na execução e interpretação, o que compromete ainda mais sua reprodutibilidade entre examinadores.
O principal alerta do estudo é que confiar em testes isolados para tomar decisões clínicas pode levar a diagnósticos equivocados, atrasar tratamentos eficazes e gerar intervenções desnecessárias. A recomendação é clara: os testes provocativos devem ser interpretados dentro de um raciocínio clínico estruturado, que considere a história do paciente, exame físico completo, fatores psicossociais e, quando necessário, exames complementares.
Este estudo reforça a urgência de uma prática fisioterapêutica e osteopática mais crítica, integrada e baseada em evidências. Mais do que buscar respostas em manobras isoladas, é necessário compreender o quadro clínico como um todo. O ombro não fala por teste, fala por contexto.
Referência
Christiansen DH, Haahr JP, Andersen JH. Diagnostic Value of Frequently Implemented Provocative Tests in the Assessment of Shoulder Pain–A Glimpse of Current Practice. J Orthop Sports Phys Ther. 2021;51(3):103-112. doi:10.2519/jospt.2021.9907
Prof. Leonardo Nascimento, Ft MSc DO PhD
Fisioterapeuta
Pós-graduado em Fisioterapia Ortopédica e Desportiva pela UNICID/SP
Especialista em Terapia Manual e Postural pela Cesumar/PR
Especialista em Osteopatia pela Universidade Castelo Branco/RJ
Osteopata Certificado pela Escola de Madrid
Professor da Escola de Madrid Internacional
Mestre em Ciências – USP
Doutor em Neurociências e Comportamento – FMUSP
Pesquisador do CABSIN (Congresso Brasileiro de Saúde Integrativa)
É um estudioso da área de palpação e sensibilidade manual tátil no Laboratório de Fisioterapia e Comportamento da Universidade de São Paulo – USP
Colaborador do DO-Touch – AOA (American Osteopathic Association)
Coordenador de Grupos de Pesquisas da Escola de Madrid Internacional
Host do Podcast Osteopatia Científica
Revisor de Periódicos de Fisioterapia e Osteopatia
Comentários
Postar um comentário