Síndrome da Dor do Trocanter Maior e Sistema de Movimento: Um Novo Olhar para a Dor no Quadril

             A dor na região lateral do quadril, frequentemente diagnosticada como Síndrome Dolorosa do Grande Trocanter (GTPS), é um desafio comum na prática clínica. Por muito tempo, atribuímos essa dor à bursite trocantérica isoladamente, mas os estudos atuais mostram que a realidade é bem mais complexa. A classificação baseada no sistema de movimento, como propõe o estudo de Disantis e Martin (2022), oferece uma abordagem mais individualizada e eficaz.

O Desafio Diagnóstico

GTPS não é uma entidade única. Pode envolver tendinopatias dos glúteos médio e mínimo, inflamações da bursa trocantérica, ou ainda o atrito da banda iliotibial. O problema é que os testes clínicos convencionais têm baixa acurácia, e exames de imagem nem sempre ajudam. Segundo os autores, o foco deve ser na análise do movimento e da função – não apenas na dor localizada.

Classificação Funcional: A Chave do Tratamento

A proposta do artigo é simples e poderosa: classificar os pacientes com base na irritabilidade e no tipo de disfunção – contrátil (tendão) ou não contrátil (bursa, ITB). A partir daí, adapta-se a intervenção.

Para casos com irritabilidade contrátil:

  • Comece com exercícios isométricos dos abdutores do quadril

  • Evolua para cargas excêntricas (ou heavy slow resistance)

  • Adicione estratégias para estabilização lombo-pélvica

Para casos não contráteis:

  • Reduza compressões sobre a bursa (orientações posturais e posicionais)

  • Trabalhe liberação miofascial leve e alongamentos

  • Só depois insira carga de forma gradual

O Que Dizem as Evidências?

Uma recente meta-análise publicada no Journal of Orthopaedic Surgery and Research mostrou que:

  • Exercícios terapêuticos são mais eficazes para redução de dor e melhora funcional do que outras abordagens

  • Injeções (corticosteroide ou PRP) podem ajudar, mas seus efeitos são temporários

  • Modalidades como ondas de choque ou eletroterapia têm resultados inconsistentes e menor evidência de benefício

Dicas Clínicas para Levar para o Consultório

✅ Avalie padrões de movimento em vez de depender de palpação

 ✅ Classifique o paciente funcionalmente e escolha o exercício com base na irritabilidade 

✅ Ensine estratégias de carga progressiva e autocuidado 

✅ Reavalie com frequência e ajuste o plano conforme resposta

Conclusão

GTPS deve ser abordado com menos foco em nomenclaturas anatômicas e mais atenção à função. Diagnóstico é mais do que nomear estruturas: é entender como o corpo se move, adapta e responde à dor. E para isso, o sistema de movimento é a lente mais clara que temos hoje.


Prof Leonardo Nascimento, Ft Msc DO PhD

Fisioterapeuta
Pós-graduado em Fisioterapia Ortopédica e Desportiva pela UNICID/SP
Especialista em Terapia Manual e Postural pela Cesumar/PR
Especialista em Osteopatia pela Universidade Castelo Branco/RJ
Osteopata Certificado pela Escola de Madrid
Professor da Escola de Madrid Internacional
Mestre em Ciências – USP
Diplomado em Osteopatia pela SEFO (Scientific European Federation Osteopaths)
Doutor em Neurociências e Comportamento - FMUSP
É um estudioso da área de palpação e sensibilidade manual tátil no Laboratório de Fisioterapia e Comportamento na Universidade de São Paulo – USP
Colaborador do DO-Touch - AOA (American Osteopathic Association)
Coordenador de Grupos de Pesquisas da Escola de Madrid Internacional
Host do Podcast Osteopatia Científica
Revisor de Periódicos de Fisioterapia e Osteopatia

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