Mielopatia Cervical: Diagnóstico, Diferenciais e Diretrizes Baseadas em Evidência
A mielopatia cervical é uma condição neurológica progressiva resultante da compressão da medula espinhal na região cervical, sendo uma das principais causas de disfunção neurológica em adultos acima dos 50 anos. O reconhecimento precoce e o manejo adequado são essenciais para evitar déficits permanentes.
Quadro Clínico: Quando Suspeitar?
Os sinais e sintomas mais comuns incluem:
Fraqueza e perda de destreza em mãos e membros superiores;
Alterações na marcha (marcha espástica ou instável);
Hiperreflexia e presença de sinais patológicos (Babinski, Hoffman);
Urgência urinária ou disfunções esfincterianas;
Dormência ou sensação de queimação nos braços, mãos e pernas.
Sintomas iniciais podem ser sutis e confundidos com condições menos graves, como radiculopatia cervical ou síndrome do túnel do carpo.
Critérios Clínicos de Alerta
Estudos como o de Nouri et al. (2015) propõem a avaliação de três domínios principais:
Função da mão (escrita, abotoar camisa);
Alterações de marcha (velocidade, equilíbrio);
Disfunções sensitivas e esfincterianas.
A presença de 2 ou mais domínios comprometidos deve levantar forte suspeita para mielopatia.
Diagnóstico Diferencial
O diagnóstico é clínico, mas deve ser confirmado com exames complementares. É essencial diferenciar a mielopatia cervical de:
Radiculopatia cervical isolada (sem sinais medulares);
Esclerose lateral amiotrófica (ELA);
Esclerose múltipla;
Espondilose ou estenose lombar com sintomas de membro inferior;
Síndromes mielopáticas infecciosas, autoimunes ou tumorais.
Exames Complementares
Ressonância Magnética (RM): padrão-ouro para visualização de compressão medular, hiperintensidade medular e estreitamento do canal espinhal.
Tomografia Computadorizada (TC) com mielografia: útil em casos com contraindicação para RM ou para melhor detalhamento ósseo.
Potenciais evocados: podem ser utilizados em casos de dúvida diagnóstica.
Abordagem Terapêutica
O tratamento conservador raramente é eficaz em casos de mielopatia moderada a grave. Diretrizes atuais (Fehlings et al., 2017; Tetreault et al., 2013) indicam:
Cirurgia descompressiva como a principal intervenção para casos progressivos;
Acompanhamento clínico e fisioterapia para casos leves e não progressivos, com avaliação periódica.
Considerações Finais
A mielopatia cervical é frequentemente subdiagnosticada nos estágios iniciais. Avaliar com atenção sinais motores, sensitivos e esfincterianos, associando com exames de imagem, é fundamental para um diagnóstico precoce e abordagem eficaz. Intervenções tardias podem resultar em déficits neurológicos irreversíveis.
Referências:
Nouri A, Tetreault L, Singh A, Karadimas SK, Fehlings MG. Degenerative Cervical Myelopathy: Epidemiology, Genetics, and Pathogenesis. Spine (Phila Pa 1976). 2015.
Fehlings MG, Wilson JR, Kopjar B, et al. Efficacy and safety of surgical decompression in patients with cervical spondylotic myelopathy: results of the AOSpine North America Prospective Multicenter Study. J Bone Joint Surg Am. 2013.
Tetreault L, Kopjar B, Côté P, et al. A clinical prediction model to determine outcomes in patients with cervical spondylotic myelopathy undergoing surgical treatment. J Bone Joint Surg Am. 2013.
Prof Leonardo Nascimento, Ft Msc DO PhD
Fisioterapeuta
Pós-graduado em Fisioterapia Ortopédica e Desportiva pela UNICID/SP
Especialista em Terapia Manual e Postural pela Cesumar/PR
Especialista em Osteopatia pela Universidade Castelo Branco/RJ
Osteopata Certificado pela Escola de Madrid
Professor da Escola de Madrid Internacional
Mestre em Ciências – USP
Diplomado em Osteopatia pela SEFO (Scientific European Federation Osteopaths)
Doutor em Neurociências e Comportamento - FMUSP
É um estudioso da área de palpação e sensibilidade manual tátil no Laboratório de Fisioterapia e Comportamento na Universidade de São Paulo – USP
Colaborador do DO-Touch - AOA (American Osteopathic Association)
Coordenador de Grupos de Pesquisas da Escola de Madrid Internacional
Host do Podcast Osteopatia Científica
Revisor de Periódicos de Fisioterapia e Osteopatia
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