Testes de Mobilidade da Sacroilíaca: Precisão ou Ilusão Clínica?

 A articulação sacroilíaca (ASI) é frequentemente culpada por dores lombares e pélvicas. Mas será que conseguimos realmente avaliá-la com precisão na prática clínica? A revisão sistemática publicada por Szadek et al. lança luz sobre um tema controverso: a confiabilidade e validade dos testes clínicos de mobilidade da ASI.

O Que o Estudo Investigou?

O objetivo do artigo foi analisar as propriedades clinimétricas dos testes comumente utilizados para avaliar a mobilidade da sacroilíaca. Entre eles:

  • Teste de Gillet (ou teste de marcha de Stork)

  • Teste de Flexão em Pé - TFP

  • Teste de mobilidade posterior

  • Teste de flexão ativa da perna reta

A revisão reuniu estudos que avaliaram confiabilidade intra e interavaliadoresvalidade (em comparação com exames de imagem ou injeções diagnósticas) e acurácia diagnóstica.

E o Resultado?

Prepare-se: a maioria dos testes analisados não apresentou propriedades clinimétricas aceitáveis. Eis os principais achados:

  • Baixa confiabilidade interavaliadores para a maioria dos testes, especialmente os que dependem de palpação dinâmica.

  • Pouca ou nenhuma validade diagnóstica comparada a métodos mais objetivos, como bloqueios anestésicos guiados por imagem.

  • Grande variabilidade entre os estudos, o que dificulta conclusões definitivas.

Em outras palavras: estamos confiando em testes que não se sustentam cientificamente.

A Implicação Prática

A identificação da ASI como geradora de dor não deve se basear exclusivamente em testes de mobilidade. O risco de diagnósticos incorretos é alto. O mais prudente é utilizar testes provocativos combinados (clusters), considerar fatores clínicos e descartar outras fontes de dor lombopélvica antes de apontar o dedo para a sacroilíaca.

Reflexão Final

O exame físico é uma arte, mas deve ser guiado pela ciência. A sacroilíaca, muitas vezes tratada como a vilã de todas as dores lombares, precisa ser abordada com criteriosidade e embasamento. Evitar diagnósticos apressados e intervenções baseadas em testes pouco confiáveis é parte do amadurecimento clínico.


Referência

Szadek KM, van der Wurff P, van Tulder MW, Zuurmond WW, Perez RS. Clinimetric properties of sacroiliac joint mobility tests: a systematic review. Phys Ther. 2009;89(10):914-926. doi:10.2522/ptj.20080374


Prof Leonardo Nascimento, Ft Msc DO PhD
Fisioterapeuta
Pós-graduado em Fisioterapia Ortopédica e Desportiva pela UNICID/SP
Especialista em Terapia Manual e Postural pela Cesumar/PR
Especialista em Osteopatia pela Universidade Castelo Branco/RJ
Osteopata Certificado pela Escola de Madrid
Professor da Escola de Madrid Internacional
Mestre em Ciências – USP
Diplomado em Osteopatia pela SEFO (Scientific European Federation Osteopaths)
Doutor em Neurociências e Comportamento - FMUSP
É um estudioso da área de palpação e sensibilidade manual tátil no Laboratório de Fisioterapia e Comportamento na Universidade de São Paulo – USP
Colaborador do DO-Touch - AOA (American Osteopathic Association)
Coordenador de Grupos de Pesquisas da Escola de Madrid Internacional
Host do Podcast Osteopatia Científica
Revisor de Periódicos de Fisioterapia e Osteopatia

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