Manipulações Vertebrais e Sistema Nervoso: Efeitos Imediatos Sob a Lupa Científica
Por muito tempo, os efeitos da terapia manual vertebral foram atribuídos quase exclusivamente a ajustes biomecânicos. Mas e se os principais efeitos fossem, na verdade, neurológicos? A revisão sistemática liderada por Martínez-Segura et al. (2021) oferece uma nova lente sobre o impacto imediato da terapia manual no sistema nervoso.
O Que o Estudo Investigou?
A revisão avaliou 21 estudos clínicos que exploraram os efeitos de curto prazo da terapia manual vertebral (SMT)sobre marcadores neurológicos em pacientes com dor musculoesquelética. O objetivo: entender como o sistema nervoso — central e periférico — responde à manipulação.
Principais Achados
Os autores encontraram alterações significativas em diversos níveis neurofisiológicos, como:
Aumento no limiar de dor por pressão (PPT) — ou seja, menor sensibilidade à dor após a SMT.
Ativação das vias inibitórias descendentes da dor, especialmente o sistema opioide endógeno.
Modulação da excitabilidade cortical, sugerindo uma reorganização temporária na percepção da dor.
Redução na atividade do sistema simpático em alguns estudos, associada a respostas autonômicas.
Em resumo, a manipulação não atua apenas “colocando vértebras no lugar” (spoiler: elas quase nunca estão fora). Ela altera temporariamente o processamento nociceptivo, podendo melhorar a dor e a função com rapidez — ainda que esses efeitos não sejam necessariamente duradouros sem intervenções complementares.
E os Limites?
A revisão chama atenção para um ponto essencial: a variabilidade metodológica dos estudos incluídos. Faltam padronização das técnicas utilizadas, consistência nos desfechos avaliados e, claro, investigações de médio e longo prazo.
Além disso, muitos efeitos parecem ser modulados por fatores contextuais: expectativa do paciente, crenças sobre o tratamento e até a forma como o terapeuta comunica a intervenção.
O Que Isso Significa na Prática?
Se você ainda usa a SMT esperando “desalojar vértebras”, talvez esteja praticando arqueologia clínica. A ciência aponta que os efeitos imediatos da manipulação são neurológicos, e o sucesso do tratamento depende do uso integrado com outras estratégias — como exercício, educação e abordagem biopsicossocial.
A SMT pode, sim, ser uma ferramenta útil. Mas ela precisa estar ancorada na ciência atual, na individualização do tratamento e na honestidade terapêutica.
Referência
Martínez-Segura R, Fernández-de-las-Peñas C, Cleland JA, et al. Short-Term Effects of Spinal Manual Therapy on the Nervous System in Managing Musculoskeletal Pain: A Systematic Review. Pain Physician. 2021;24(7):511-526.
Prof Leonardo Nascimento, Ft Msc DO PhD
Fisioterapeuta
Pós-graduado em Fisioterapia Ortopédica e Desportiva pela UNICID/SP
Especialista em Terapia Manual e Postural pela Cesumar/PR
Especialista em Osteopatia pela Universidade Castelo Branco/RJ
Osteopata Certificado pela Escola de Madrid
Professor da Escola de Madrid Internacional
Mestre em Ciências – USP
Diplomado em Osteopatia pela SEFO (Scientific European Federation Osteopaths)
Doutor em Neurociências e Comportamento - FMUSP
É um estudioso da área de palpação e sensibilidade manual tátil no Laboratório de Fisioterapia e Comportamento na Universidade de São Paulo – USP
Colaborador do DO-Touch - AOA (American Osteopathic Association)
Coordenador de Grupos de Pesquisas da Escola de Madrid Internacional
Host do Podcast Osteopatia Científica
Revisor de Periódicos de Fisioterapia e Osteopatia
Comentários
Postar um comentário