O Últimato Sobre a Sacroilíaca: Evidência, Diagnóstico e o Papel do Fisioterapeuta

 A articulação sacroilíaca (ASI) é uma velha conhecida dos profissionais que lidam com dor lombopélvica. Já foi rotulada como a origem de todos os males, depois descartada como irrelevante, e agora… retorna como um desafio clínico que exige precisão, conhecimento e uma boa dose de senso crítico.

Neste ultimato, vamos reunir os principais pontos discutidos no blog Osteopatia Científica sobre a ASI — do diagnóstico à abordagem terapêutica — com base em evidências atuais e sugestões clínicas aplicáveis à prática.

1. Diagnóstico: o mito da palpação

Testes de mobilidade como Gillet, inclinação anterior e similares são amplamente usados. Mas a revisão sistemática de Szadek et al. (2009) nos dá o primeiro choque de realidade: baixa confiabilidade interavaliadores e pouca validade clínica. Ou seja, palpar mobilidade sacroilíaca continua sendo mais arte do que ciência.

Dica clínica: Use testes provocativos validados (cluster de Laslett, por exemplo) e combine-os com contexto clínico. Não diagnostique com base em um teste isolado.

2. A dor sacroilíaca existe? Sim. Mas não tanto quanto parece.

Estudos apontam que a ASI é responsável por cerca de 13% a 30% das dores lombares, especialmente em gestantes, pós-trauma ou após fusão lombar. Em outros casos, há causas mais prováveis — como a coluna lombar, quadril ou tecidos miofasciais.

Dica clínica: Pense em ASI como um diagnóstico diferencial, não como primeira opção diagnóstica.

3. Intervenções: terapia manual, exercícios e educação

Manipulações e mobilizações da ASI podem gerar alívio temporário por efeitos neurofisiológicos, mas não há evidência de que “reposicionem” algo. A prática mais segura e eficaz envolve abordagem multimodal: terapia manual (com parcimônia), estabilização lumbopélvica, e, sobretudo, educação em dor.

Dica clínica: Intervenções passivas são úteis, mas não substituem o movimento ativo e a autonomia do paciente.

4. E a osteopatia nisso tudo?

A osteopatia tem papel relevante ao trazer sensibilidade tátil, escuta ativa e abordagem integral. Mas também precisa se atualizar. Reposicionar a ASI com uma “alavanca mágica” não tem suporte científico. O osteopata moderno combina raciocínio clínico com evidência atualizada, sem abrir mão do toque humano.

Conclusão

A ASI é importante, mas não merece mais ser tratada como a “vilã oculta” de toda dor pélvica. O futuro da prática clínica depende de uma avaliação precisa, terapias baseadas em evidências e um olhar crítico sobre o que realmente ajuda — e o que apenas perpetua mitos terapêuticos.

A boa notícia? Temos ferramentas para isso. E cada vez mais fisioterapeutas e osteopatas estão escolhendo a ciência como parceira de jornada.


Referências:

  • Szadek KM, et al. Clinimetric properties of sacroiliac joint mobility tests: a systematic review. Phys Ther. 2009.

  • Laslett M. Evidence-based diagnosis and treatment of the painful sacroiliac joint. J Man Manip Ther. 2008.

  • Vleeming A, et al. The sacroiliac joint: an overview of its anatomy, function and potential clinical implications. J Anat. 2012.


Prof Leonardo Nascimento, Ft Msc DO PhD
Fisioterapeuta
Pós-graduado em Fisioterapia Ortopédica e Desportiva pela UNICID/SP
Especialista em Terapia Manual e Postural pela Cesumar/PR
Especialista em Osteopatia pela Universidade Castelo Branco/RJ
Osteopata Certificado pela Escola de Madrid
Professor da Escola de Madrid Internacional
Mestre em Ciências – USP
Diplomado em Osteopatia pela SEFO (Scientific European Federation Osteopaths)
Doutor em Neurociências e Comportamento - FMUSP
É um estudioso da área de palpação e sensibilidade manual tátil no Laboratório de Fisioterapia e Comportamento na Universidade de São Paulo – USP
Colaborador do DO-Touch - AOA (American Osteopathic Association)
Coordenador de Grupos de Pesquisas da Escola de Madrid Internacional
Host do Podcast Osteopatia Científica
Revisor de Periódicos de Fisioterapia e Osteopatia

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Nervo vertebral

O teste de discriminação de dois pontos melhora com o tempo de prática?

Controle Motor: A Base Científica que Está Revolucionando a Reabilitação!