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Mostrando postagens de setembro, 2025

Síndrome do Piriforme: o álibi perfeito para quem não sabe diagnosticar

  Introdução          Existe um vilão de estimação nos consultórios: o piriforme .      Toda dor glútea irradiada que não encaixa em diagnóstico lombar vira, de forma quase automática, “síndrome do piriforme”. É simples, rápido e convincente para o paciente. O problema? É também um atalho perigoso e, na maioria das vezes, um erro grosseiro .          A verdade é que a síndrome do piriforme existe , mas é rara . E só deve ser cogitada quando todo o resto foi descartado .   O que a ciência mostra          Nos últimos dez anos, a síndrome foi reposicionada como parte de um grupo maior: a síndrome glútea profunda , onde o nervo ciático pode ser comprimido não apenas pelo piriforme, mas também pelo obturador interno, gêmeos, tendão dos isquiotibiais ou por alterações anatômicas.          Ou seja, ...

Os Gurus da Fisioterapia: Entre o Mito e a Evidência

 A fisioterapia e a osteopatia foram, nas últimas décadas, terreno fértil para a ascensão de gurus e métodos milagrosos. Alguns com propostas didáticas ricas, outros com pretensões científicas frágeis, e muitos com promessas terapêuticas que nunca foram realmente testadas. Essa combinação entre carisma, metáforas clínicas e pseudociência elegante gerou um fenômeno perigoso:  a substituição da dúvida pela devoção. É nesse contexto que nasce a websérie  “Os Gurus da Fisioterapia e da Osteopatia: Entre o Mito e a Evidência”  — um projeto provocador, mas embasado, que revisita os principais métodos consagrados na prática clínica e os confronta com as melhores evidências disponíveis. Por dentro da websérie: episódios e suas evidências 1. A Era dos Gurus Reflexão inicial sobre o motivo pelo qual nossa área se tornou suscetível a “mestres” incontestáveis. Discute o impacto da ausência de pensamento crítico na formação profissional. 📖  Sackett DL et al. BMJ, 1996. 2. P...

Rigidez Espinhal Postero‑Anterior em Pacientes com Dor Lombar

 A sensação de “coluna rígida” é queixa comum entre pacientes com dor lombar — muitos profissionais inclusive baseiam intervenções manuais a partir dessa percepção. O estudo de Harsted et al. (2021) buscou quantificar essa rigidez de modo  instrumentado  (isto é, eletrônico/computacional) e relacionar os valores medidos com variáveis clínicas (idade, sexo, dor, incapacidade).  O que foi feito? Foram avaliados  127 pacientes  encaminhados a atendimento de segundo nível com dor lombar.  Utilizou-se um dispositivo de indentação (o  VerteTrack ) para aplicar pressão postero‑anterior à coluna, mensurando deslocamento e força (medidas de rigidez “global” e “terminal”).  Em seguida, cruzaram-se esses valores com 14 variáveis independentes (idade, sexo, escore de incapacidade, fatores psicométricos etc.) por meio de modelos de regressão com seleção de subset (best subset) para entender quais preditores melhor explicam a rigidez medida. Principais ach...

🏋️‍♂️ CrossFit, Core e Dor: O que a ciência nos conta

               Uma tríade de estudos recentes sobre CrossFit e disfunções musculoesqueléticas abre uma janela privilegiada para entender como um esporte de alta intensidade interage com mecanismos de dor, desempenho e controle motor . O que emerge não é uma resposta única, mas um mosaico de achados que exige olhar clínico crítico e integrador.   🔹 Dor Subacromial: o laboratório do trapézio e serrátil             O estudo de Guérineau et al. (2025) mostra que atletas de CrossFit com dor subacromial unilateral apresentam alterações discretas, mas relevantes, no padrão de ativação muscular : Mais atividade de trapézio inferior na fase concêntrica. Menos atividade de serrátil anterior na fase isométrica.             Isso não estabelece um padrão de dor, mas aponta para compensações específicas que podem gerar ...

Respirar para Sentir Menos Dor? O Diafragma em Foco no Pós-Operatório de Histerectomia

 Pode parecer simples demais, mas respirar bem — com o diafragma — pode ser uma intervenção terapêutica com impacto clínico real. Um estudo clínico randomizado recente avaliou os efeitos da respiração diafragmática na dor referida após histerectomia laparoscópica total. E os resultados surpreendem. Contexto: Cirurgia e Dor Referida A histerectomia laparoscópica é uma intervenção minimamente invasiva, mas frequentemente acompanhada de dor referida no ombro, muitas vezes relacionada à irritação do diafragma pelo gás insuflado na cavidade abdominal. Esse tipo de dor é uma velha conhecida nos centros cirúrgicos, mas ainda pouco abordada de forma eficaz. O Estudo: Método e Intervenção O estudo incluiu mulheres submetidas à cirurgia e randomizadas em dois grupos: Grupo Controle: cuidados pós-operatórios padrão; Grupo Intervenção: recebeu orientação e prática de  respiração diafragmática profunda  a cada duas horas, por três dias. Os desfechos principais foram  intensidade ...

Dor Lombar Crônica e Declínio Cognitivo: O Que a Coluna Tem a Ver com o Cérebro?

 Durante muito tempo, a dor lombar foi tratada como um problema “local”, centrado em discos, músculos e articulações. Mas estudos recentes vêm ampliando essa perspectiva. E um deles, publicado em 2024, sugere algo inquietante:  a dor lombar crônica pode estar associada a um declínio cognitivo acelerado em idosos . Pausa dramática. Sim, você leu certo. O Estudo A pesquisa analisou  quatro bases de dados populacionais com acompanhamento longitudinal  de milhares de idosos ao redor do mundo. Os autores avaliaram se pessoas com dor lombar crônica apresentavam maior risco de declínio cognitivo ao longo do tempo — e se esse efeito poderia ser mediado por variáveis como depressão, inatividade física ou distúrbios do sono. A resposta?  Sim, há associação. E não é pequena. Resultados: Mente e Dor Estão Conectadas Indivíduos com dor lombar persistente apresentaram  pior desempenho cognitivo ao longo dos anos , especialmente em funções executivas e memória. O impacto ...