Testes Provocativos para Dor no Ombro: Ainda Devemos Confiar Neles?
A avaliação clínica da dor no ombro muitas vezes inclui uma série de testes provocativos, como Neer, Hawkins-Kennedy, Jobe, Apprehension, Speed, entre outros. Esses testes são ensinados amplamente na formação em fisioterapia e medicina esportiva, mas qual é o seu real valor diagnóstico? O estudo "Diagnostic Value of Frequently Implemented Provocative Tests in the Assessment of Shoulder Pain – A Glimpse of Current Practice" analisa criticamente as evidências que sustentam o uso desses testes no contexto clínico atual.
1. Qual é o Valor Diagnóstico Real dos Testes Provocativos?
O estudo revisa a literatura sobre sensibilidade, especificidade e valor preditivo de diversos testes comumente utilizados para condições como impacto subacromial, lesão de manguito rotador e instabilidade glenoumeral. Entre os principais achados:
✔ Sensibilidade geralmente moderada a alta, mas baixa especificidade em muitos testes, o que leva a falsos positivos.
✔ Testes isolados raramente são suficientes para confirmar um diagnóstico.
✔ Sobreposição de sinais clínicos entre diferentes condições, o que torna os testes provocativos pouco discriminativos.
✔ Baixa reprodutibilidade interavaliador, especialmente em testes que exigem interpretação subjetiva da resposta do paciente.
💡 Dica clínica: Evite tomar decisões clínicas importantes com base em um único teste. Use agrupamentos de sinais, histórico e resposta funcional ao movimento.
2. A Prática Atual: Uma Lacuna Entre Evidência e Rotina Clínica
Apesar da baixa validade diagnóstica de muitos testes, eles continuam sendo amplamente utilizados, muitas vezes de forma automática. O estudo questiona:
🔹 Por que profissionais continuam aplicando testes pouco confiáveis?
🔹 Há uma supervalorização de achados biomecânicos em detrimento da avaliação funcional e biopsicossocial?
🔹 Qual o papel do ensino clínico na perpetuação de práticas desatualizadas?
📌 A conclusão é que muitos testes ainda são usados mais por hábito do que por respaldo científico sólido.
💡 Dica clínica: Atualize seu raciocínio clínico com base em evidências atuais. Testes provocativos podem ser úteis, mas devem compor um raciocínio mais amplo e contextualizado.
3. Como Melhorar a Avaliação do Ombro com Base em Evidências?
O estudo sugere caminhos para uma prática mais assertiva:
✔ Agrupar testes com base em protocolos com melhor validade preditiva (ex: cluster de Park et al. para impacto).
✔ Utilizar mais avaliação funcional e análise do movimento real.
✔ Incluir fatores psicossociais, percepção corporal e contexto ocupacional.
✔ Monitorar resposta a intervenções como forma indireta de teste diagnóstico (teste terapêutico).
💡 Dica clínica: Pense menos em "qual estrutura está lesionada?" e mais em "o que o paciente precisa para recuperar sua função com menos dor?"
Conclusão: Hora de Atualizar a Avaliação Clínica do Ombro
O estudo reforça que os testes provocativos, embora úteis em alguns contextos, têm limitações importantes em termos de validade e confiabilidade. O raciocínio clínico deve ir além do teste positivo/negativo, incorporando análise funcional, resposta ao movimento e fatores biopsicossociais. Atualizar-se é essencial para oferecer uma prática mais eficiente e centrada no paciente.
Você ainda utiliza os testes clássicos de ombro? Como tem adaptado sua avaliação à luz das novas evidências? Compartilhe sua experiência!
Referência
Müller, M., et al. (2025). Diagnostic Value of Frequently Implemented Provocative Tests in the Assessment of Shoulder Pain: A Glimpse of Current Practice. Journal of Musculoskeletal Diagnostics, 29(1), 35–48.
Prof Leonardo Nascimento, Ft Msc DO PhD
Fisioterapeuta
Pós-graduado em Fisioterapia Ortopédica e Desportiva pela UNICID/SP
Especialista em Terapia Manual e Postural pela Cesumar/PR
Especialista em Osteopatia pela Universidade Castelo Branco/RJ
Osteopata Certificado pela Escola de Madrid
Professor da Escola de Madrid Internacional
Mestre em Ciências – USP
Diplomado em Osteopatia pela SEFO (Scientific European Federation Osteopaths)
Doutor em Neurociências e Comportamento - FMUSP
É um estudioso da área de palpação e sensibilidade manual tátil no Laboratório de Fisioterapia e Comportamento na Universidade de São Paulo – USP
Colaborador do DO-Touch - AOA (American Osteopathic Association)
Coordenador de Grupos de Pesquisas da Escola de Madrid Internacional
Host do Podcast Osteopatia Científica
Revisor de Periódicos de Fisioterapia e Osteopatia
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