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Dor Não é Só Dor: O Peso dos Fatores Psicológicos no Desfecho da Dor

 Se você ainda acredita que dor é apenas uma resposta à lesão tecidual, talvez esteja lendo os artigos errados — ou lendo de menos. A ciência moderna da dor tem deixado cada vez mais claro que fatores como medo, catastrofização, expectativa e crenças sobre o corpo influenciam diretamente o desfecho terapêutico. Mas o artigo de revisão “The Effect of Psychological Factors on Pain Outcomes: Lessons Learned for the Next Generation of Research” aprofunda essa ideia e vai além: mostra como ignorar essas variáveis é um erro metodológico e clínico. O que esse artigo traz de novo? O estudo discute décadas de pesquisas sobre dor crônica e mostra que muitos ensaios clínicos falham não porque as intervenções não funcionam, mas porque subestimam o papel de fatores como: Catastrofização da dor Crenças disfuncionais sobre movimento Baixa autoeficácia Medo e evitação Depressão e ansiedade associadas à dor Essas variáveis não só modulam a experiência dolorosa, mas também afetam a  aderência a...

Manipulação Vertebral: Menos Dor, Mesmo Equilíbrio

 Se você ainda acha que uma única sessão de manipulação vertebral cura tudo — da dor lombar crônica à má postura, passando por “realinhamento de chakras” — este texto é para você. Um estudo recente colocou à prova essa narrativa milagrosa, com uma abordagem honesta e baseada em evidências. 🔬 O Estudo: O que Foi Feito? A pesquisa, publicada em um ensaio clínico randomizado, controlado por placebo, investigou os  efeitos imediatos de uma única sessão de manipulação vertebral (SMT)  sobre dois desfechos importantes em pessoas com dor lombar crônica: Sensibilidade local à dor Estabilidade postural Foram comparadas três abordagens: SMT real (alta velocidade, baixa amplitude) Intervenção simulada (placebo manual) Controle sem intervenção 📉 Resultados: Alívio Parcial, sem Milagres O resultado principal?  Houve redução significativa da sensibilidade à dor local  após a manipulação real — um achado que confirma o papel de  mecanismos neurofisiológicos imediatos , ...

A Ciência Bayesiana Decide sobre a Dor Lombar Crônica

 A dor lombar crônica é uma das condições mais prevalentes e desafiadoras da prática clínica musculoesquelética. Quando o paciente chega ao consultório perguntando:  "É melhor alongar ou fazer fortalecimento? Massagem ou exercício?" , a resposta ideal deveria ser baseada em evidências sólidas. E quando queremos o topo da pirâmide da evidência, recorremos às  revisões sistemáticas e meta-análises . Mas e quando a análise não se limita a comparar dois tratamentos? Quando queremos entender como diferentes intervenções se relacionam entre si, mesmo que nem todas tenham sido comparadas diretamente nos estudos? É aí que entra a  meta-análise em rede (network meta-analysis)  — e, melhor ainda, uma com abordagem  Bayesiana . 📊 O que é uma Meta-Análise Bayesiana? Na prática, a meta-análise tradicional reúne dados de estudos semelhantes para estimar o efeito médio de uma intervenção. Já a  meta-análise em rede  permite comparar  múltiplas intervenções...

20 Anos de Evolução no Manejo da Dor Lombar Aguda no Reino Unido: Quem Mudou, Quem Ficou e Por Quê?

 A dor lombar aguda continua a ser uma das maiores causas de incapacidade no mundo. Profissionais como fisioterapeutas, osteopatas e quiropráticos frequentemente atuam na linha de frente desse atendimento. Mas será que, nos últimos 20 anos (2003 a 2023), a forma como esses profissionais abordam essa dor realmente mudou? O estudo em questão resolveu responder essa pergunta — e os resultados trazem tanto esperanças quanto alertas. O Estudo em Foco Os autores conduziram  duas pesquisas nacionais  no Reino Unido (uma em 2003, outra em 2023) com amostras representativas de fisioterapeutas, osteopatas e quiropráticos, usando o  mesmo caso‑vignette fictício de dor lombar aguda inespecífica  para avaliar quais investigações e intervenções os profissionais relataram que utilizavam.  Principais Mudanças Observadas O número de profissionais que optavam por  nenhuma investigação  aumentou ao longo dos 20 anos, indicando uma aproximação maior às diretrizes que...

Dor Inguinal em Atletas: O Que Realmente Causa? A Ciência Responde

 Se você é fisioterapeuta, educador físico ou atua com esportes, com certeza já atendeu aquele atleta — amador ou profissional — com dor na região inguinal. Essa dor enigmática, muitas vezes de difícil diagnóstico, é mais comum do que se imagina e pode comprometer gravemente o desempenho esportivo. Mas afinal… o que realmente causa dor inguinal em atletas? Seriam fatores biomecânicos? Alterações musculares? Ou simplesmente excesso de treino? Um estudo recente revisou as evidências para esclarecer essa bagunça clínica. O Estudo A revisão sistemática publicada por Mosler et al. (2023) buscou identificar  fatores de risco associados à dor inguinal em atletas . Os pesquisadores analisaram  18 estudos  de qualidade metodológica variada, envolvendo esportistas de diferentes modalidades, como futebol, hóquei, atletismo e rugby. Principais Resultados Entre os fatores associados à dor inguinal, destacaram-se: Histórico prévio de dor inguinal:  O maior preditor isolado. S...

Dor em Desenhos: O Que 21 Mil Pacientes Têm a Dizer?

 O paciente chega, pega a ficha e, diante da silhueta humana impressa, rabisca com raiva a lombar, o pescoço ou o corpo todo. Você olha aquele “mapa da dor” e pensa:  o que eu faço com isso? Um estudo recente e gigantesco publicado em  Pain Reports  — com  21.123 pacientes com dor na coluna  — resolveu levar esse desenho a sério. Muito a sério. Utilizando algoritmos de análise de dados, os pesquisadores exploraram os padrões desses desenhos e suas associações com fatores clínicos e psicológicos. Spoiler: tem mais ciência no lápis do que parece. A Pergunta: O Que os Desenhos de Dor Revelam? O estudo teve como objetivo identificar  padrões distintos nos desenhos de dor  e correlacioná-los com características clínicas e psicológicas dos pacientes com dor espinhal (cervical, torácica e lombar). Como o Estudo Foi Conduzido? Foram analisados  21.123 desenhos de dor  oriundos de redes clínicas da Suécia. Usaram  técnicas de machine learnin...

TeleReabilitação para Dor Lombar Crônica: Conectando Movimento e Tecnologia

 A dor lombar crônica (DLC) continua sendo uma das principais causas de incapacidade no mundo. E enquanto os consultórios e clínicas lotam com pacientes que repetem a mesma frase — “já tentei de tudo” — surge uma nova proposta:  reabilitação baseada em exercício, feita à distância, com apoio da tecnologia . A chamada  telereabilitação . Mas será que funciona mesmo? Ou é mais uma moda passageira, como a cadeira que promete corrigir sua postura sem esforço? Uma  scoping review  recente mergulhou nesse universo para mapear a efetividade, as ferramentas e os desafios dessa abordagem. O Que Essa Revisão Investigou? Os autores buscaram responder uma pergunta direta:  qual é o estado atual das evidências sobre o uso da telereabilitação baseada em exercícios para tratar pacientes com dor lombar crônica? Para isso, realizaram uma revisão de escopo — uma metodologia útil para mapear o volume e os tipos de evidência disponíveis, especialmente em áreas emergentes ou po...

ATM e Refluxo: Uma Relação que Vai Muito Além da Azia

 A dor na articulação temporomandibular (ATM) é um dos quadros musculoesqueléticos mais complexos e multifatoriais que um clínico pode enfrentar. Agora imagine que, além do estresse, da oclusão e da sobrecarga muscular, o paciente ainda sofre de  refluxo gastroesofágico (DRGE) . Parece improvável? Pois é exatamente essa possível correlação que este estudo caso-controle investigou — e os resultados são, no mínimo, curiosos. Qual a Hipótese do Estudo? Os autores partiram da hipótese de que  pacientes com DRGE poderiam ter uma prevalência maior de disfunções temporomandibulares (DTMs) . A base dessa ideia está no  eixo cérebro-intestino-mandíbula , onde estresse, distúrbios autonômicos e inflamação sistêmica poderiam ser fatores de ligação entre as duas condições. Metodologia Foram avaliados  100 pacientes com diagnóstico confirmado de DRGE  (via endoscopia e sintomatologia) e comparados a  100 controles saudáveis , pareados por idade e sexo. Todos os par...

Treinamento Neuromuscular com Biofeedback em Tempo Real: Quando o Corpo Aprende com o Espelho Digital

 O que acontece quando você combina treinamento neuromuscular com tecnologia de biofeedback em tempo real? Se sua resposta foi “coisa de atleta de elite”, você está em parte certo — mas também está subestimando o potencial dessa ferramenta no manejo da dor, prevenção de lesões e reabilitação funcional. Um estudo randomizado controlado recente investigou exatamente isso em atletas jovens do sexo feminino. O Estudo Publicado em periódico internacional com boa qualificação na área de medicina esportiva, este RCT envolveu  jovens atletas do sexo feminino , muitas delas envolvidas com esportes de alta demanda como futebol, vôlei e basquete. O objetivo era verificar se o  treinamento neuromuscular com feedback em tempo real  (via sensores e monitores de movimento) traria benefícios adicionais em comparação ao treinamento convencional. Metodologia Os participantes foram randomizados em dois grupos: Grupo intervenção : Treinamento neuromuscular com feedback visual em tempo r...