Diagnóstico da Dor Lombar Discogênica com Discografia Negativa: O Que a Ciência Está Revelando?
A dor lombar crônica é uma das principais causas de incapacidade em todo o mundo. Em muitos casos, a origem da dor é atribuída ao disco intervertebral, uma condição conhecida como dor lombar discogênica. No entanto, o diagnóstico dessa condição é desafiador, especialmente quando exames como a discografia — considerados padrão-ouro por décadas — apresentam resultados negativos. O estudo “Diagnosis of discogenic low back pain in patients with probable symptoms but negative discography” questiona os limites desse método diagnóstico e propõe novas reflexões sobre o reconhecimento clínico da dor discogênica.
1. Contextualização da Dor Lombar Discogênica
A dor discogênica tem origem na degeneração ou inflamação do disco intervertebral, frequentemente sem radiculopatia associada. Os sintomas clássicos incluem:
Dor axial, centralizada na região lombar inferior.
Piora com posição sentada prolongada e flexão anterior.
Ausência de sinais neurológicos evidentes.
O diagnóstico costuma ser clínico e apoiado por exames de imagem e discografia provocativa — teste que visa reproduzir a dor do paciente por meio da pressurização de discos suspeitos.
2. A Discografia e Seus Limites como Ferramenta Diagnóstica
Apesar de seu uso difundido, a discografia tem limitações importantes:
Alta taxa de falsos negativos, especialmente em estágios iniciais de degeneração discal.
Variabilidade interobservador e risco de viés subjetivo.
Possibilidade de indução de dor e degeneração adicional no disco.
Esses fatores motivaram o estudo a investigar pacientes com sintomas típicos de dor discogênica, mas discografia negativa.
3. Metodologia e Resultados do Estudo
O estudo analisou um grupo de pacientes com sintomas altamente sugestivos de dor discogênica (histórico clínico, exame físico e achados em ressonância magnética), mas que apresentaram discografia negativa.
Método: Acompanhamento clínico, correlação com sinais de Modic tipo 1, desidratação discal em RM, e resposta ao bloqueio anestésico.
Achados: Muitos pacientes responderam positivamente ao tratamento específico para dor discogênica (como fusão espinhal ou técnicas de modulação do disco), mesmo sem confirmação pela discografia.
Conclusão: A discografia negativa não exclui o diagnóstico de dor discogênica e pode falhar em identificar pacientes com dor de origem discal.
4. Discussão dos Achados
O estudo aponta para a necessidade de integrar dados clínicos, imagem e raciocínio funcional no diagnóstico da dor discogênica, em vez de depender exclusivamente de um exame invasivo.
Além disso, reforça a importância de:
✔ Considerar sinais de degeneração discal ativa (Modic 1) como indício de nocicepção discal.
✔ Reavaliar o papel da discografia em protocolos clínicos e cirúrgicos.
✔ Desenvolver métodos não invasivos mais sensíveis e específicos, como avaliação funcional e biomarcadores de inflamação discal.
💡 Dica clínica: A ausência de confirmação por discografia não deve invalidar o julgamento clínico bem fundamentado quando o restante da avaliação aponta para dor discogênica.
Conclusão
O estudo reforça que o diagnóstico da dor discogênica não deve ser descartado com base apenas em uma discografia negativa. O raciocínio clínico, o contexto do paciente e a correlação com achados de imagem e resposta terapêutica continuam sendo fundamentais. À medida que evoluímos em compreensão dos mecanismos da dor lombar, é essencial adotar uma abordagem mais integrada e menos dependente de exames isolados.
Referência
Zhang, Y., et al. (2024). Diagnosis of discogenic low back pain in patients with probable symptoms but negative discography. Journal of Spine Disorders, 39(2), 145–157.
Prof Leonardo Nascimento, Ft Msc DO PhD
Fisioterapeuta
Pós-graduado em Fisioterapia Ortopédica e Desportiva pela UNICID/SP
Especialista em Terapia Manual e Postural pela Cesumar/PR
Especialista em Osteopatia pela Universidade Castelo Branco/RJ
Osteopata Certificado pela Escola de Madrid
Professor da Escola de Madrid Internacional
Mestre em Ciências – USP
Diplomado em Osteopatia pela SEFO (Scientific European Federation Osteopaths)
Doutor em Neurociências e Comportamento - FMUSP
É um estudioso da área de palpação e sensibilidade manual tátil no Laboratório de Fisioterapia e Comportamento na Universidade de São Paulo – USP
Colaborador do DO-Touch - AOA (American Osteopathic Association)
Coordenador de Grupos de Pesquisas da Escola de Madrid Internacional
Host do Podcast Osteopatia Científica
Pesquisador do CABSIN (Consórcio Acadêmico Brasileiro de Saúde Integrativa)
Revisor de Periódicos de Fisioterapia e Osteopatia
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