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Mostrando postagens de abril, 2025

Osteopata Cientista ou Osteopata Don Quixote?

  O Osteopata Don Quixote: o cavaleiro das disfunções imaginárias         Em tempos modernos, ainda cavalga pelos consultórios o Osteopata Don Quixote , herdeiro simbólico do velho cavaleiro espanhol que guerreava contra moinhos de vento acreditando combater monstros temíveis.           Armado com antigas doutrinas, livros desgastados e uma fé inabalável nas "verdades" do século XIX, o Osteopata Don Quixote interpreta cada dor, cada desconforto, cada anomalia anatômica como uma ameaça oculta, como uma "disfunção" imperceptível aos olhos dos meros mortais. Seus olhos, treinados pelo possibilismo anatômico, veem rotações de ossos invisíveis, microlesões etéreas, fluidos primários estagnados e órgãos “desalinhados” clamando por libertação.           Não importam as evidências atuais; ele recusa as lentes da ciência contemporânea. Suas ferramentas são palpação subjetiva, teorias vitalistas e diagnóstico...

A Crise e a Evolução da Osteopatia: uma análise crítica a partir da literatura recente

          A osteopatia, enquanto profissão de saúde, enfrenta hoje uma crise identitária e epistemológica profunda, como revelam diversas análises contemporâneas.           Thomson e Martini (2024) apontam que parte significativa do ensino e da prática osteopática ainda é permeada por conceitos pseudocientíficos, o que compromete sua credibilidade e impede sua integração plena ao modelo de práticas baseadas em evidências. Essa crítica encontra eco em Thomson e MacMillan (2023), que ampliam a análise ao diagnosticar cinco fragilidades estruturais: uma base teórica frágil, a permanência de um biomédicalismo reducionista, o monointervencionismo manual, práticas centradas no profissional, e o uso de explicações implausíveis para fenômenos clínicos.           Essa visão crítica é aprofundada por L’Hermite (2024), que propõe compreender a identidade osteopática como uma tensão contínua entre o idem —...

Testes Provocativos para Dor no Ombro: Ainda Devemos Confiar Neles?

 A avaliação clínica da dor no ombro muitas vezes inclui uma série de testes provocativos, como Neer, Hawkins-Kennedy, Jobe, Apprehension, Speed, entre outros. Esses testes são ensinados amplamente na formação em fisioterapia e medicina esportiva, mas qual é o seu real valor diagnóstico? O estudo "Diagnostic Value of Frequently Implemented Provocative Tests in the Assessment of Shoulder Pain – A Glimpse of Current Practice" analisa criticamente as evidências que sustentam o uso desses testes no contexto clínico atual. 1. Qual é o Valor Diagnóstico Real dos Testes Provocativos? O estudo revisa a literatura sobre sensibilidade, especificidade e valor preditivo de diversos testes comumente utilizados para condições como impacto subacromial, lesão de manguito rotador e instabilidade glenoumeral. Entre os principais achados: ✔  Sensibilidade geralmente moderada a alta, mas baixa especificidade  em muitos testes, o que leva a falsos positivos. ✔  Testes isolados raramente ...

GIRD em Atletas Arremessadores: A Visão da Osteopatia no Tratamento do Déficit de Rotação Interna do Ombro

 Atletas que realizam movimentos repetitivos de arremesso, como jogadores de beisebol, vôlei e handebol, frequentemente desenvolvem um desequilíbrio funcional conhecido como GIRD (Glenohumeral Internal Rotation Deficit). O artigo "Glenohumeral Internal Rotation Deficit in Overhead Throwing Athletes: Evidence and Perspectives of Osteopathic Manipulative Treatment" propõe uma análise aprofundada da condição e discute o papel da osteopatia na sua abordagem clínica. 1. O Que É GIRD e Por Que É Relevante? GIRD é caracterizado por uma perda significativa da rotação interna do ombro dominante em comparação com o ombro não dominante. Ele está associado a: ✔  Alterações adaptativas no ombro de arremesso , incluindo encurtamento posterior da cápsula e do manguito rotador. ✔  Aumento do risco de lesões , como lesões do lábio glenoidal, impacto posterior e tendinopatias. ✔  Alterações no ritmo escápulo-umeral , prejudicando a mecânica global do gesto esportivo. 💡  Dica clí...

🧠 Dor lateral do cotovelo: evidência fraca, prática acomodada?

Apesar de décadas de estudos sobre terapia manual, ainda temos pouca evidência sólida para justificar seu uso rotineiro na dor lateral do cotovelo. O que isso revela sobre nossa prática, nossas escolhas e a ciência que consumimos? 📌 Introdução: a dor que desafia a ciência A dor lateral do cotovelo - frequentemente diagnosticada como epicondilalgia lateral -  é uma das queixas mais comuns nos consultórios de fisioterapia, osteopatia e medicina esportiva. Nos últimos anos, uma quantidade considerável de estudos tentou avaliar a eficácia da terapia manual para tratar essa condição. E apesar da popularidade da abordagem, os resultados permanecem desanimadores . Uma revisão sistemática publicada pela Cochrane em 2024 analisou os principais ensaios clínicos sobre o tema. Na média, os efeitos sobre dor e incapacidade foram pequenos e de curta duração — e a maioria das evidências foi classificada como de baixa ou muito baixa qualidade. Neste texto, vamos além dos números: propomos...