Utilizamos métodos capazes de detectar as pequenas variações das habilidades palpatórias?


Artigo - Differences between the cutaneous two-point discrimination thresholds of chiropractic students at different stages in a 5-year course.

Revista Journal of Manipulative and Physiological Therapeutics

2002 outubro 25(8) 521-5

Autores - Chandhok PS, Bagust J.
              Anglo-European College of Chiropractic, Bournemouth, UK.

O artigo visa investigar as diferenças entre a acuidade tátil em diferentes estágios do curso de quiropraxia do Anglo-European College of Chiropractic na Inglaterra.

Metodologia - foi realizado o teste de discriminação de dois pontos no dedo indicador da mão dominante e não dominante ( o antebraço do lado dominante foi utilizado como parâmetro de normalidade e não sofreu alterações significativas) dos 74 sujeitos divididos em 5 grupos, de acordo com o nível de formação.

O teste de discriminação de dois pontos é um teste comum utilizado para avaliação da sensibilidade de indivíduos com distúrbios sensório motores. Deve ser utilizado com muito critério em indivíduos normais. Conforme diminuímos a distancia dos pontos, acontece uma sobreposição dos campos receptores da pele. O paciente normal  mesmo sendo tocado por 2 pontos, uma distancia de 2 mm faz com que seja percebido somente um ponto. O resultado desse teste é que estamos diante de um paciente normal. E por isso, não temos referencias das pequenas alterações dentro da faixa normalidade. 

Uma alteração de 1 mm de rotação já caracteriza uma disfunção somática e com isso, temos um ponto cego do teste utilizado. Não temos uma caracterização específica da sensibilidade manual tátil de osteopatas ou estudantes de osteopatia com a utilização desse teste.


Resultados - os resultados obtidos mostram que a capacidade de identificação de dois pontos em sujeitos do 4 e 5 ano de formação é melhor do que comparado com os outros grupos e isso é justificado pelo treinamento que acontece durante o curso.


Quando falamos de habilidades desenvolvidas ao longo de um período, a metodologia ideal para que isso seja avaliado é utilizando o mesmo sujeito ao longo do tempo (follow up). Nesse estudo foi desconsiderado esse fator e foram comparados alunos de todos os anos, seguindo uma metodologia comum nessa área.
Os autores concluem que o treinamento é o responsável pela diferença a favor dos alunos do 4 e 5 ano. Mas afinal, o que é esse treinamento?

- foi considerado somente o aprendizado de anatomia palpatória ao longo do curso?
-  quantas horas de treinamento ao longo dos anos para cada indivíduo? 
-  qual é a melhor maneira de treinar a palpação? Tentativa e erro? 
  -  será que se replicarmos esse estudo em outra população ou no mesmo indivíduo ao longo dos anos de formação teremos os mesmos resultados?

Deve se pensar como crítico e aprender a não acreditar em tudo o que está escrito só por se tratar de um artigo científico. Muitos pontos são questionáveis.

O mais importante é sabermos que temos um longo caminho a seguir para comprovarmos a nossa palpação diagnóstica na comunidade científica.





 Leonardo Nascimento, Ft Msc ETM DO
 Fisioterapeuta pela UNICID/SP
 Pós graduado em Fisioterapia Ortopédica e Desportiva pela UNICID/SP
 Especialista em Terapia Manual e Postural pela Cesumar/PR
 Especialista em Osteopatia pela Universidade Castelo Branco/RJ
 Osteopata Certificado pela Escola de Madrid - EOM
 Mestre e Doutorando em Ciências da Reabilitação - USP
 Diplomado em Osteopatia pela SEFO (Scientific European Federation Osteopaths)

É um estudioso da área de palpação e sensibilidade manual tátil no Laboratório de Fisioterapia e Comportamento na Universidade de São Paulo - USP

É interessado na área de diagnóstico em Osteopatia e Terapias Manuais e na validação da palpação como ferramenta diagnóstica

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