O que a manipulação visceral pode ajudar os pacientes com dores lombares?

Nesta semana falaremos sobre a interferência do tratamento visceral em pacientes com lombalgia. Sabemos se tratar de uma das principais senão a principal queixa para os consultórios e clínicas de Osteopatia na atualidade e também sabemos que existem muitos pesquisadores ao redor do mundo estudando este tema, suas causas e possíveis tratamentos mais indicados e com resultados melhores em curto e longo prazo.

Os problemas lombares podem ser de variadas causas, bloqueios articulares, hérnias ou protusões discais, problemas de instabilidade, problemas sacroilíacos, problemas musculares e temos também as interferências viscerais. Muitos órgãos podem gerar dores lombares como por exemplo, os intestino grosso e especialmente, os órgãos da pelve menor - reto, bexiga, útero e ovários nas mulheres e próstata nos homens.

Os pesquisadores decidiram investigar a eficácia da manipulação visceral como adicional a um regime de tratamento de fisioterapia, que foi chamado de padrão.  O tratamento padrão incluiu terapia manual, exercícios específicos e prescrição de exercícios funcionais.

O estudo avaliou os pacientes tratados após 6 semanas do tratamento para verificar os efeitos a longo prazo da adição da manipulação visceral.

O estudo ainda verificou a incapacidade e a capacidade funcional dos pacientes em 2, 6 e 52 semanas pós tratamento e ainda, o quadro de dor pós intervenção em 2 e 52 semanas.

Os autores realizaram duas publicações: a primeira foi com o protocolo do estudo e a segunda com os resultados completos.

Na primeira publicação foi descrito o desenho do estudo, um ensaio clínico randomizado controlado e a análise dos dados foi realizado por um estatístico cego também foi respeitada a intenção de tratar (intention to treat).


Foram selecionados 64 pacientes com dor lombar inespecífica em uma clínica particular na Australia e encaminhados para o estudo, foram excluídos os participantes que não tinham dor na região lombar, escala VAS 2 ou inferior, com suspeitas de problemas sérios na coluna, grávidas ou suspeitas de gravidez e ainda os que apresentavam problemas de compressão de raizes nervosas

Os pacientes foram divididos em 2 grupos: um grupo com tratamento padrão e manipulação visceral e outro grupo com tratamento padrão e placebo visceral. Os dados foram coletados em 2, 6 e 52 semanas.

Os desfechos aferidos foram: dor (escala visual analógica de dor - VAS) em 6 e 52 semanas, foi utilizado o  Roland-Morris Disability Questionary em 2,6 e 52 semanas e capacidade funcional que foi aferido com uma escala funcional específica também em 2,6 e 52 semanas.

Os resultados mostraram que a manipulação visceral não afetou a dor em 6 semanas quando comparados os dois grupos.

Também não houve diferenças significativas entre os grupos para a dor em 2 semanas ou para incapacidade e funcionalidade em 2,6 ou 52 semanas.

Porém, o grupo que recebeu manipulação visceral tinham menos dor do que o grupo placebo em 52 semanas. 

Os participantes foram adequadamente cegos para o status de grupo e não houve efeitos adversos relatados em ambos os grupos.

Os autores concluem que a adição da manipulação visceral não aumenta a eficácia nos desfechos analisados a curto prazo porém, pode produzir melhorias clinicamente significativas nos parâmetros em 1 ano.

O que podemos perceber é que nos casos de dores lombares inespecíficas, um tratamento das fáscais viscerais subdiafragmáticas, torácicas, abdominais e pélvicas leva a uma manutenção melhor do quadro de dor, incapacidade (Roland-Morris) e funcionalidade a longo prazo.





Bibliografia

Panagopoulos J, Hancock M, Ferreira P. Does the addition of visceral manipulation improve outcomes for patients with low back pain? Rationale and study protocol. J Bodyw Mov Ther. 2013 Jul;17(3):339-43. doi: 10.1016/j.jbmt.2012.12.004. Epub 2013 Jan 16.



Panagopoulos J, Hancock MJ, Ferreira P, Hush J, Petocz P Does the addition of visceral manipulation alter outcomes for patients with low back pain? A randomized placebo controlled trial. Eur J Pain. 2015 Aug;19(7):899-907. doi: 10.1002/ejp.614. Epub 2014 Nov 7.



Escrito por

Leonardo Nascimento, Ft Msc ETM DO
Fisioterapeuta pela UNICID/SP
Pós graduado em Fisioterapia Ortopédica e Desportiva pela UNICID/SP
Especialista em Terapia Manual e Postural pela Cesumar/PR
Especialista em Osteopatia pela Universidade Castelo Branco/RJ
Osteopata Certificado pela Escola de Madrid
Professor e Coordenador da Escola de Madrid
Mestre e Doutorando em Ciências da Reabilitação – USP
Diplomado em Osteopatia pela SEFO (Scientific European Federation Osteopaths)


É um estudioso da área de palpação e sensibilidade manual tátil no Laboratório de Fisioterapia e Comportamento na Universidade de São Paulo – USP

Comentários

  1. "Os problemas lombares podem ser de variadas causas, bloqueios articulares, hérnias ou protusões discais, problemas de instabilidade, problemas sacroilíacos, problemas musculares e temos também as interferências viscerais. Muitos órgãos podem gerar dores lombares como por exemplo, os intestino grosso e especialmente, os órgãos da pelve menor - reto, bexiga, útero e ovários nas mulheres e próstata nos homens.". Leo, parabens pelo "resumo". Copiei sua menção literal. Pensava no seguinte: todos esses pontos, assim com as alterações osteopáticas (ERS, FRS, Lesões Viscerais, etc) que encontramos, não seriam sintomas e não causas? O meio ambiente não tem mais importância que o meio interno do sujeito? Abs e felicitações...

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