Qual a relação da Pressão Intracraniana e a Atividade Simpática?
Pressão
intracraniana (IPC) é pressão exercida pelo crânio sobre o tecido
cerebral, fluido cerebroespinhal e sangue circulante do cérebro. A PIC decorre da
compressão exercida nas paredes da caixa craniana devido as alterações no
volume das estruturas do encéfalo e tem uma variação fisiológica de 5 a 15 mmHg e reflete a relação entre o conteúdo da caixa
craniana e o volume do crânio.
O aumento do ICP comprime os vasos
cerebrais e reduz o retorno venoso do cérebro. O aumento maciço de ICP leva a
isquemia cerebral, mas também é conhecido por produzir hipertensão, bradicardia
e irregularidades respiratórias devido a um mecanismo simpatico-adrenal chamado
resposta de Cushing.
A tríade de Cushing se
relaciona a hipertensão intracraniana grave. É composta por hipertensão arterial sistêmica (níveis pressóricos
elevados), bradicardia (baixa frequência cardíaca) e alterações do
ritmo respiratório (padrão respiratório irregular). A sua identificação é importante na medicina de urgência, já que a tríade sugere uma isquemia severa no cérebro. A tríade de Cushing está presente em menos de 25%
dos pacientes com elevada pressão intracraniana, mesmo em casos de pressão
intracraniana superior a 30 mmHg (maior que 15 mmHg já é considerada anormal).
Uma questão ainda não resolvida é se a
resposta de Cushing é um mecanismo isquêmico agudo do tronco encefálico
não-sináptico ou parte de um reflexo fisiológico maior para controle da pressão
arterial e regulação da homeostase.
O estudo que iremos descrever essa
semana utilizou como hipótese que
mudanças no ICP modulam a atividade simpática. Assim, houve aumento e
diminuição de ICP modesto em camundongos e pacientes com infusão de líquido
intra-ventricular e lombar, respectivamente.
A atividade simpática foi medida
diretamente pela microneurografia, registrando a atividade do nervo simpático
renal em camundongos e atividade do nervo simpático muscular em pacientes, e
avaliada indiretamente em ambas as espécies pela análise da variabilidade da
frequência cardíaca – aqui cabe ressaltar que uma das melhores formas de medir
a atividade do Sistema Nervoso Autonômico é pela variabilidade da frequência
cardíaca #ficaadica!
Em ratos (n = 15), a atividade
simpática renal aumentou de 29,9 ± 4,0 rajadas (ICP de linha de base 6,6 ± 0,7
mmHg) para 45,7 ± 6,4 rajadas. (platô ICP 38,6 ± 1,0 mmHg) e diminuiu para 34,8
± 5,6 rajadas. (ICP 9,1 ± 0,8 mmHg pós-infusão).
Em pacientes (n = 10), a atividade
simpática muscular aumentou de 51,2 ± 2,5 rajadas (ICP de base 8,3 ± 1,0 mmHg)
para 66,7 ± 2,9 rajadas (platô ICP 25 ± 0,3 mmHg) e diminuiu para 58,8 ± 2,6
rajadas (ICP 14,8 ± 0,9 mmHg pós-infusão).
Nos pacientes, o aumento de IC de 7
mmHg aumenta significativamente a atividade simpática em 17%. A análise da
variabilidade da frequência cardíaca demonstrou uma retirada vagal
significativa durante o aumento do ICP, de acordo com os achados da
microrneurografia.
Apesar de não parecerem nos ratos e os
resultados humanos são iguais ou seja, foi demonstrado que em animais e
humanos, o ICP é um determinante reversível da saída simpática eferente, mesmo
em níveis relativamente baixos de ICP.
ICP é um estresse biofísico relacionado
às forças dentro do cérebro. Mas ICP também deve ser considerado como estressor
fisiológico, conduzindo a atividade simpática.
Os resultados sugerem um novo circuito
de modulação simpática mediada pelo ICP fisiológico e a existência de um
possível baroreflexo intracraniano (relacionado ao SNC).
O aumento moderado do ICP pode
participar da fisiopatologia do desequilíbrio cardio-metabólico da homeostase
com sobre-atividade simpática e com a patogênese das doenças com comportamento
simpaticotônico.
Por Leonardo Nascimento, Ft Msc DO
Fisioterapeuta
Pós graduado em Fisioterapia Ortopédica e Desportiva pela
UNICID/SP
Especialista em Terapia Manual e Postural pela Cesumar/PR
Especialista em Osteopatia pela Universidade Castelo Branco/RJ
Osteopata Certificado pela Escola de Madrid
Professor e Coordenador da Escola de Madrid
Mestre e Doutorando em Ciências da Reabilitação – USP
Diplomado em Osteopatia pela SEFO (Scientific European Federation
Osteopaths)
Membro do Comite Científico da AOB (Associação de Osteopatas do
Brasil)
É um estudioso da área de palpação e sensibilidade manual tátil no
Laboratório de Fisioterapia e Comportamento na Universidade de São Paulo – USP
Bibliografia
Cushing, H. (1901). Concerning a
definite regulatory mechanism of vasomotor centre which controls blood pressure
during cerebral compression. Bull. Johns Hopkins Hosp. 12, 290–292.
Schmidt EA, Despas F, Pavy-Le Traon A, Czosnyka
Z, Pickard JD, Rahmouni K, Pathak A, Senard JM. Intracranial Pressure Is a Determinant of
Sympathetic Activity. Front Physiol. 2018 Feb 8;9:11. doi:
10.3389/fphys.2018.00011. eCollection 2018.
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