Qual a importância do estalido articular para os nossos pacientes?
A manipulação espinhal usando a técnica de alta velocidade e de
baixa amplitude (HVLA) é um impulso na articulação para além da sua faixa
passiva usual de movimento, mantendo-a dentro das suas limitações anatômicas ou
seja, é um procedimento realizado dentro da amplitude normal de movimento de
uma articulação.
HVLA ou manipulação espinhal
está entre as primeiras técnicas manuais. Assim, em 400 aC, Hipócrates
descreveu combinações de tração e manipulação espinhal. A manipulação espinhal
continuou a ser usada ao longo dos séculos, ganhando ampla aceitação no século
XIX, antes de sofrer um desenvolvimento considerável no século XX com a introdução
da osteopatia, medicina manual e
tratamentos manipuladores ortopédicos.
Muitos estudos publicados avaliaram as indicações,
contra-indicações, riscos e efeitos da manipulação espinhal. Outro foco de
atenção considerável tem sido o som de estalo ouvido durante a manipulação
articular, particularmente nas articulações metacarpofalângicas, que são facilmente
acessíveis e muitas vezes emitem estalidos.
Estes sons são agora
atribuídos à cavitação, que é a formação de bolhas de vapor num fluido quando
um efeito mecânico induz uma queda de pressão. Não há aumento de temperatura.
Durante a tração ou manipulação HVLA, as superfícies articulares são separadas
umas das outras, causando um aumento no volume e, conseqüentemente, uma queda na
pressão. Além de um limiar de pressão, as mudanças químicas convertem parte do
líquido sinovial em gás, produzindo um som de estalo.
Um estudo de ressonância magnética estabeleceu que o som de estalo
produzido pela aplicação de tração a uma articulação metacarpofalângica é
devido à formação, e não à Colapso, de uma bolha de gás. Esta bolha é instável
e colapsa prontamente após a manobra.
Apesar dessa evidência científica, a manipulação espinhal e o seu
som, continuam a ser largamente
enigmáticos para a população em geral. As crenças relativas a esses sons raramente
foram estudadas. No entanto, crenças errôneas sobre os sons durante a
manipulação espinhal podem sugerir a existência de outras crenças errôneas (por
exemplo, que as costas são frágeis) potencialmente associadas a efeitos nocivos
como o aumento do medo e catastrofização e diminuição da auto-eficácia que são
vistos como fatores de risco para progressão e / ou perpetuação da cronicidade.
Ou seja, devemos informar corretamente nossos pacientes do que realmente acontece
quando realizamos essas manobras em nossa prática clínica.
Esse estudo teve como objetivo examinar as crenças sobre os sons
ouvidos durante as manobras de alta velocidade de baixa amplitude (HVLA) ou
mais conhecidas como manipulações espinhais em indivíduos com e sem experiência
pessoal desta técnica.
Um tema muito interessante pois, alguns autores afirmam que a
manipulação é um placebo teatral e que com isso não temos a real necessidade de
utilizá la em nossa prática clínica porém, já discutimos aqui nesse blog muitos
artigos que afirmam os efeitos fisiológicos dessas manobras.
Um outro ponto interessante do estudo é que foram selecionados um
total de 100 sujeitos. Entre eles, 60 não tinham história de manipulação
espinhal, incluindo 40 que eram assintomáticos, com ou sem antecedentes de dor
espinhal e 20 que tinham dor na coluna inespecífica. Os restantes 40 pacientes
tiveram história de manipulação espinhal no passado e dentre eles, 20 eram
assintomáticos e 20 tinham dor na coluna.
Os participantes participaram de uma entrevista individual, durante
a qual completaram um questionário sobre sua história de manipulação espinhal e
suas crenças sobre sons ouvidos durante a manipulação espinhal.
A média de idade foi de 43,5 ± 15,4 anos. Os sons foram atribuídos
ao reposicionamento vertebral por 49% dos participantes e ao atrito entre duas
vértebras por 23% dos participantes. E sabemos que ambas crenças estão
equivocadas mas, com certeza a culpa não é dos pacientes né?
Apenas 9% dos participantes
atribuíram corretamente o som à liberação de gás ou seja, de cada 10
profissionais que utilizam as técnicas de manipulações em sua prática clínica,
menos de 1 (0,9) informa corretamente ao paciente o que acontece!! Muito pouco
né?
E um resultado que impressionou foi que o som foi considerado
equivocadamente para indicar a manipulação espinal bem sucedida por 40% dos
participantes. E sabemos que muitas vezes mesmo sem ouvir o estalido,
conseguimos os efeitos fisiológicos da manobra.
Não foram encontradas diferenças nas crenças entre os grupos com e
sem história de manipulação espinhal.
Certas crenças têm efeitos adversos documentados. Este estudo
mostrou uma alta prevalência de crenças infundadas sobre a manipulação
espinhal.
Essas crenças merecem maior
atenção dos profissionais de saúde, particularmente aqueles que praticam a
manipulação espinhal.
Então caros leitores, vamos informar corretamente nossos pacientes
a partir de agora?
Por Leonardo Nascimento
Bibliografia
Kawchuk GN, Fryer J,
Jaremko JL, Zeng H, Rowe L, Thompson R. Real-time visualization of joint
cavitation. PLoS One 2015 ;10(4):e0119470.
Cramer GD, Ross K,
Raju PK, Cambron J, Cantu JA, Bora P, et al. Quantification of cavitation and
gapping of lumbar zygapophyseal joints during spinal manipulative therapy. JMPT
2012 ;35(8):614-21.
Watson P, Mollan RA.
Cineradiography of a cracking joint. Br J Radiol
1990 ;63(746):145-7.
Demoulin C, Baeri D,
Toussaint G, Caignie B, Beernaert A, Kauz JF, Vanderthommen M. Beliefs in the
Population about Cracking Sounds Produced during Spinal Manipulation. Joint
Bone Spine. 2017; apr 26
Muito bom. O certo que muitas vezes explicamos o que é mais fácil de se entender, ou seja, entrou no lugar....
ResponderExcluir