Trilhos miofasciais, verdade ou mito?

Quando falamos em trilhos miofasciais, que são descritos por tantos autores na área de Terapias Manuais, muitos não acreditam que essa tensão possa ser transmitida pelo tecido conjuntivo.

O tecido conjuntivo é de alta complexidade e também o tecido mais presente em nosso corpo e talvez por isso, o Dr Still tenha descrito um dos princípios da Osteopatia como a Unidade do Corpo. Um corpo indivisível onde uma parte interfere no funcionamento das outras só pode ser possível pelo colágeno, elastina e pela água.

Um dos autores famosos da área, Thomas Myers, descreveu em 1997 com base em estudos de dissecção anatômica, evidencias para a existência de seis meridianos miofasciais.

Para esta coleta de dados foram selecionados artigos relevantes publicados entre 1900 e dezembro 2014 no MEDLINE (Pubmed), ScienceDirect e Google Scholar.

Foram incluídos estudos de dissecção anatômica em humanos, que relataram continuidade morfológica entre os componentes musculares dos meridianos examinados. Todos os estudos que demonstraram uma ligação estrutural entre dois músculos e artigos sobre anatomia geral da região do corpo correspondente foram também selecionados.


Quando analisamos os resultados encontrados começamos a perceber porque se trata de um tema tão controverso no campo anatômico, a continuidade entre dois músculos só foi documentada por dois investigadores independentes. 

Além disso, dois investigadores independentes avaliaram a qualidade metodológica dos estudos incluídos por meio de uma ferramenta de avaliação validado (QUACS). Isso nos indica um critério de análise dos estudos o que começa a diferenciar o artigo de uma revisão bibliográfica para uma revisão sistemática.

Em um primeiro tempo foi encontrado 6589 artigos. Destes, 62 artigos preencheram os critérios de inclusão. 

Os estudos revisados ​​sugerem fortes evidências para a existência de três meridianos miofasciais: a cadeia superficial posterior (14 estudos), a cadeia profunda posterior (8 estudos) e a cadeia miofascial anterior (6 estudos). 


Evidência moderada a forte está disponível para partes da linha em espiral (21 estudos) e a linha lateral (10 estudos). Nenhuma evidência existe para a linha de frente superficial (7 estudos inconclusivos).

A presente revisão sistemática sugere que a maioria dos músculos esqueléticos do corpo humano estão diretamente ligados por tecido conjuntivo. 

Examinar a capacidade funcional destas cadeias miofasciais é a tarefa sugerida pelos autores para pesquisas futuras. 


Esse mecanismo de transmissão de tensão ao longo dos meridianos ou cadeias miofasciais pode abrir uma nova fronteira para a compreensão da dor referida e proporcionar uma base racional para o desenvolvimento de abordagens de tratamento mais holísticos.


As técnicas de liberação miofascial, são analisadas em uma revisão sistemática para avaliar a sua eficácia para as condições ortopédicas por McKenney et al, 2013.

Um ponto importante descrito pelos autores foi que a pesquisa foi feita com as seguintes com palavras-chave: liberação miofascial, terapia de liberação miofascial, tratamento de liberação miofascial, músculo-esqueléticas, e ortopédicos (em inglês). Sem limitações de data.

Os artigos foram selecionados com base no uso da liberação miofascial em relação às palavras no abstract ou palavra-chave. A seleção final foi feita aplicando os critérios de inclusão e exclusão para o texto completo. Os estudos foram incluídos se eles eram de língua Inglesa, os estudos revisados ​​por especialistas sobre a liberação miofascial para uma condição ortopédica em pacientes adultos. Dez estudos foram elegíveis.

Os dados coletados foram: número de participantes, condição a ser tratada, o tratamento utilizado, grupo controle, medidas de resultados e resultados. Os estudos foram analisados ​​utilizando a escala PEDro e o Center for Evidence-Based Medicine's Levels of Evidence Scale.

Escores de estudo na escala PEDro variaram de 6 (10) a 8 (10). Com base nos níveis da escala de evidência, os estudos de caso (n = 6) foram de qualidade inferior, com uma classificação de 4. 

Três dos 4 estudos restantes foram avaliados em 2b (Individual cohort studies or low-quality randomized controlled trials), e o outro estudo  foi avaliado em 1b (Individual randomized controlled trial).

No geral, os estudos tiveram resultados positivos com liberação miofascial, mas por causa da baixa qualidade, algumas conclusões podem ser duvidosas. 

Os estudos nesta revisão podem servir como uma boa base para futuros ensaios clínicos randomizados.


Verdade ou mito?


Bibliografia


Kristin McKenney, MSc, Amanda Sinclair Elder, EdD, Craig Elder, PhD, and Andrea Hutchins, PhD. Myofascial Release as a Treatment for Orthopaedic Conditions: A Systematic Review. J Athl Train. 2013 Jul-Aug; 48(4): 522–527.



Wilke J1, Krause F2, Vogt L2, Banzer W2. What is evidence-based about myofascial chains? A systematic review. Arch Phys Med Rehabil. 2015 Aug 14.


Escrito por

Leonardo Nascimento, Ft Msc ETM DO
Fisioterapeuta pela UNICID/SP
Pós graduado em Fisioterapia Ortopédica e Desportiva pela UNICID/SP
Especialista em Terapia Manual e Postural pela Cesumar/PR
Especialista em Osteopatia pela Universidade Castelo Branco/RJ
Osteopata Certificado pela Escola de Madrid
Professor e Coordenador da Escola de Madrid
Mestre e Doutorando em Ciências da Reabilitação – USP
Diplomado em Osteopatia pela SEFO (Scientific European Federation Osteopaths)



É um estudioso da área de palpação e sensibilidade manual tátil no Laboratório de Fisioterapia e Comportamento na Universidade de São Paulo – USP

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