Como encontrarmos resultados diferentes relacionados aos mesmos trabalhos para manipulação vertebral?

Nosso texto desta semana mostra como a ciência evolui e como devemos ter uma atenção especial com a nossa fonte de informação, com os autores, com os desfechos, com a estatística…..enfim, com tudo que envolve a publicação!


Em 2004, foi publicado na Revista Spine, uma revisão sistemática sobre a eficácia da manipulação vertebral e da mobilização para dor lombar e dor cervical, exatamente por ser já nessa época um tema controverso.

Os critérios de inclusão de estudos foi que tinham que ser Ensaios clínicos randomizados controlados com 10 ou mais sujeitos por grupo que receberam Manipulação ou mobilização com os seguintes desfechos - dor relatada pelo paciente, incapacidade, melhora global e tempo de recuperação.

Foi feita a revisão até o ano de 2002 por 2 revisores independentes, 69 estudos foram encontrados e avaliados em uma escala de 0 a 100. Enfim, 43 estudos foram incluídos.

Os resultados apontam que para a dor lombar aguda, a manipulação vertebral provoca um alívio da dor em curto prazo, melhor que a mobilização e o diatermia.
Para a dor lombar crônica, foram encontrada evidencias moderadas que a manipulação vertebral tem efeitos similares a prescrição de antiinflamatórios. A manipulação e a mobilização são efetivas em curto prazo em comparação ao placebo ( e sabemos o problema de utilizar um placebo em trabalhos de manipulação e mobilização sem viés) e aos cuidados paliativos; e em longo prazo, se comparada com a fisioterapia. E aparente ser melhor que fisioterapia e exercícios para casa em ambos, curto e longo prazos.

Temos evidências limitadas que a manipulação vertebral é melhor que o placebo em curto prazo e superior a microcirurgia para herniado discal.

Temos ainda, evidências limitadas que a mobilização é inferior a exercícios após cirurgia de hérnia discal. 

Quando os trabalhos analisaram dores agudas e crônicas na lombar, para o desfecho de dor, tanto a manipulação e a mobilização provém a curto e longo prazo, um alívio maior que o placebo e outras intervenções, como Mckenzie, cuidados médicos, fisioterapia, mobilização de tecidos moles e escola de coluna.

Para dores cervicais agudas, tiveram poucos estudos e a evidência é inconclusiva. Para dores cronicas cervicais temos evidência moderada que a manipulação e a mobilização são superiores aos cuidados tradicionais para redução da dor em curto prazo mas, a manipulação apresentou resultados similares para a alívio da dor para aparelhos de reabilitação em curto e longo prazo.

Quando foram analisados dores agudas e crônicas na coluna cervical, as evidências não são claras. Temos evidências moderadas que a mobilização é superior a fisioterapia e cuidados de médico da família, e similar a manipulação em curto e longo prazo. 

Temos evidências limitadas que a manipulação vertebral, tanto em curto e longo prazo, é inferior a fisioterapia.

O trabalho conclui que a manipulação e  a mobilização são opções viáveis para o tratamento de problemas cervicais e lombares agudos e crônicos porém, deve se melhorar os desfechos para uma melhor análise de cada técnica isoladamente com um grupo melhor definido de pacientes e com desfechos precisos visto que a manipulação e a mobilização são tratamento com um bom custo benefício e parecem ter resultados importantes.




Em 2006, Ernest et al, realizaram uma revisão sistemática das revisões sistemáticas sobre ensaios clínicos com manipulação vertebral no período de 2000 a 2005. O critério de inclusão foi que as revisões sistemáticas analisadas apresentavam critérios explícitos e reprodutíveis de inclusão e exclusão.

Foram incluídos 16 trabalhos com desfechos distintos: dor lombar (3), dor cervical (2), dor lombar e dor cervical (1), cefaléia (3), dor não vertebral (1), disminorréia primária e secundária (1), cólica do lactente (1), asma (1), alergia (1), tonturas cervicogênicas (1) e qualquer problema médico (1).

Ou seja, todos esses possíveis desfechos para as manipulações vertebrais foram analisados conjuntamente e o resultado foi que quando a manipulação foi utilizada para dor na coluna cervical ou lombar o paciente relatou melhora tanto quanto outros tratamentos convencionais.
É um bom recurso para dores na coluna porém, para cólica do lactente, disminorréia, alergias, outros problemas médicos, tonturas cervicogênicas não…..ainda bem que não temos somente a manipulação como recurso!

O trabalho ainda concluiu que os dados coletados demonstram que a manipulação vertebral é uma intervenção eficaz porém, não recomendável em virtude de apresentar uma melhora equivalente à outros tratamentos convencionais…se melhora, por que não é recomendável, se já foi comprovado que quando aplicado por profissionais habilitados não apresenta risco?

Em 2011, o mesmo autor publicou novamente a revisão para atualização e novamente avaliou a efetividade da manipulação vertebral em pacientes com qualquer condição entre 2005 e 2011 com os mesmos critérios de inclusão anteriormente mencionados.

Desta vez, tivemos 45 revisões sistemáticas incluídas com os seguintes desfechos para manipulação vertebral: dor lombar (7), dores de cabeça (6), dor cervical (4), asma (4), problemas músculo esqueléticos (3), qualquer problema não músculo esquelético (2), fibromialgia (2), cólica do lactente (2), qualquer problema médico (1), qualquer condição pediátrica (1), síndrome do túnel do carpo (1), tontura cervicogênica (1), disminorréia (1), problemas gastrointestinais (1), hipertensão (1), escoliose idiopática (1), epicondilite lateral (1), desfecho fisiológico (1), problemas de membros inferiores (1), gravidez e condições relacionadas (1), dor no ombro (1), problemas em membros superiores (1), chicote cervical (1).

E conclui que a manipulação vertebral é uma intervenção inefetiva para qualquer problema novamente.

E novamente, temos que entender que o raciocínio clínico da Osteopatia engloba uma série de técnicas e não somente manipulacões vertebrais o que nos dá a possibilidade de tratar esses problemas com outros resultados, diferentes da manipulações.

No texto da semana passada foram apresentados o arsenal de técnicas que o osteopatia possui, lembram?

E agora, para que vamos usar a manipulação vertebral? 

Escrito por

Leonardo Nascimento, Ft Msc ETM DO
Fisioterapeuta pela UNICID/SP
Pós graduado em Fisioterapia Ortopédica e Desportiva pela UNICID/SP
Especialista em Terapia Manual e Postural pela Cesumar/PR
Especialista em Osteopatia pela Universidade Castelo Branco/RJ
Osteopata Certificado pela Escola de Madrid
Professor e Coordenador da Escola de Madrid
Mestre e Doutorando em Ciências da Reabilitação – USP
Diplomado em Osteopatia pela SEFO (Scientific European Federation Osteopaths)


É um estudioso da área de palpação e sensibilidade manual tátil no Laboratório de Fisioterapia e Comportamento na Universidade de São Paulo – USP


Bibliografia

Bronfort G1, Haas M, Evans RL, Bouter LM., 2004. Spine J. Efficacy of spinal manipulation and mobilization for low back pain and neck pain: a systematic review and best evidence synthesis. May-Jun;4(3):335-56.

Ernst E1, Canter PH., 2006 A systematic review of systematic reviews of spinal manipulation. J R Soc Med.  Apr;99(4):192-6.


Posadzki P1, Ernst E., 2011. Spinal manipulation: an update of a systematic review of systematic reviews. N Z Med J.  Aug 12;124(1340):55-71.

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